RACIONAL: O diagnóstico dos subtipos de constipação crônica tem sido considerado difícil de ser estabelecido, mesmo em centros especializados. Embora os testes fisiológicos tenham trazido uma importante contribuição, ainda há dúvidas quanto as suas indicações. OBJETIVOS: Estabelecer o diagnóstico diferencial em casos de constipação crônica através da avaliação clínica e da utilização de testes fisiológicos, procurando-se identificar parâmetros clínicos que poderiam predizer quais pacientes necessitariam de tais testes. MÉTODOS: Cento e setenta e nove pacientes (83% do sexo feminino; média de idade de 45 anos) com constipação crônica de acordo com os critérios de Roma II foram inicialmente tratados com medidas dietéticas e reeducação funcional e aqueles que não responderam (110 ou 61,5%) foram submetidos a tempo de trânsito colônico, defecografia, manometria anorretal e eletromiografia, de acordo com apresentação clínica da constipação crônica. RESULTADOS: O diagnóstico etiológico foi obtido em 63.6% dos pacientes testados. Entretanto, em 61,5% (69 que não necessitaram dos testes e 40 que tiveram testes normais), o diagnóstico etiológico foi estabelecido em bases clínicas. A síndrome do intestino irritável (32%), a disfunção do assoalho pélvico (29%) e a constipação funcional secundária a inadequação dietética e de hábitos de vida (22%) foram os principais diagnósticos etiológicos da constipação crônica. A alternância de constipação e a presença de náuseas/vômitos estiveram significativamente relacionadas ao diagnóstico de síndrome do intestino irritável; idade precoce, grandes intervalos entre as evacuações, ocorrência de impactação fecal e necessidade de enemas estiveram relacionadas ao diagnóstico de megacólon não-chagásico, enquanto assistência digital para evacuar e grande retocele ou assoalho pélvico espástico ao toque retal se associaram à disfunção do assoalho pélvico. Pacientes com constipação de longa duração, impactação fecal, dor abdominal não aliviada pelas evacuações, necessidade de enemas, assistência digital para evacuar e com evidência de retocele tendem a necessitar de testes de fisiologia para definição da causa de constipação crônica. CONCLUSÕES: O diagnóstico etiológico da constipação crônica pode ser obtido na maioria dos pacientes somente em bases clínicas, sendo que alguns sintomas estão significativamente associados a determinados diagnósticos. A indicação dos testes de fisiologia, por sua vez, deve ser baseada em parâmetros clínicos específicos.
BACKGROUND: Diagnosis of subtypes of chronic constipation has been considered difficult to achieve even in specialized centers. Although colorectal physiologic tests have brought an important contribution, it remains unclear in which patients these tests should be indicated for. AIMS: This study aims to establish a differential diagnosis for chronic constipation cases using clinical assessment and physiologic tests and to identify clinical parameters that could predict which patients need physiologic tests. METHODS: One hundred and seventy nine patients (83% females; mean age, 45) with chronic constipation according to Rome II criteria were initially treated by dietary advice and functional reeducation and those unresponsive (110 or 61.5%) were submitted to colonic transit time, defecography, anorectal manometry and electromyography, as needed. RESULTS: A differential diagnosis was achieved in 63.6% of patients tested. However, 61.5% of 179 patients with chronic constipation (69 with no need to tests and 40 with normal tests) have etiologic diagnosis established only on clinical basis. Irritable bowel syndrome (32%), pelvic floor dysfunction (29%) and functional constipation due to faulty diet and life style habits (22%) were the main causes of chronic constipation. Alternating constipation and nausea/vomiting were symptoms significantly related to the diagnosis of irritable bowel syndrome; younger age, larger intervals between bowel movements, occurrence of fecal impaction and necessity of enema were related to the diagnosis of non-chagasic megacolon and digital assistance to evacuate and large rectocele or spastic pelvic floor on rectal exam were associated to pelvic floor dysfunction. Patients with long-standing constipation, fecal impaction, abdominal pain not eased after defecation, necessity for enemas, digital assistance and evidence of rectocele tended to be in need for physiologic tests to define the cause of chronic constipation. CONCLUSIONS: The etiologic diagnosis of chronic constipation can be achieved in most of patients on a clinical basis and some symptoms may be significantly related to specific diagnoses. Indications for physiologic tests should be based on specific clinical parameters.