Resumo Introdução: O delirium é uma das complicações mais frequentes em cuidados paliativos com uma prevalência de 88% nos dias que precedem o fim de vida. Os dados sobre delirium no seguimento domiciliário em cuidados paliativos são escassos. O objetivo deste trabalho é caracterizar a popula-ção seguida por uma equipa de cuidados paliativos em regime intra-hospitalar e domiciliário, avaliar a prevalência de delirium, a estratégia terapêutica, o tempo de resolução e os fatores que se associam a maior ou menor prevalência de delirium. Métodos: Foi realizado um estudo de coorte retrospetivo, que incluiu todos os doentes acompanhados no hospital e no domicílio por uma equipa de cuidados paliativos em Portugal durante o ano de 2019. Resultados: Foram incluídos 496 doentes, dos quais 308 (62,1%) tiveram acompanhamento intra-hospitalar. Identificado delirium em 112 (22,6%) doentes e o fármaco de primeira linha foi o haloperidol (n = 58, 51,8%). Registaram-se 283 (57,1%) óbitos e a ocorrência de óbito foi significativamente maior naqueles que desenvolveram delirium (72,3%, p <0,001). Foram associadas a uma maior incidência de delirium o seguimento intra-hospitalar (27,9%, p <0,001), infeção (53,9%, p <0,001), alterações endócrinas (84,6%, p <0,001) e iónicas (55,0%, p <0,001), o uso de anticolinérgicos (54,1%, p = 0,001), antipsicóticos (42,6%, p = 0,031), corticosteroides (37,7%, p = 0,008) e a presença de metastização cerebral (50,0%, p = 0,046). Conclusão: Existe uma prevalência significativa de delirium em doentes em fim de vida, sendo este um preditor de mau prognóstico. A implementação de cuidados paliativos de qualidade com uma abordagem multidisciplinar pode proporcionar um controlo mais eficaz do delirium e reduzir sua prevalência geral.
Abstract Introduction: Delirium is one of the most frequent complications in palliative care with a prevalence as high as 88% in the days preceding the end-of-life. Data on delirium home-based palliative care are scarce. The aim of this work is to characterize the population followed by a palliative care team, both in-hospital and at home, to assess the prevalence of delirium, the therapeutic strategy, its resolution, and the factors associated with the higher or lower prevalence of delirium. Methods: A retrospective cohort study was carried out, including all patients followed in the hospital and at home by a palliative care team in Portugal during the year of 2019. Results: A total of 496 patients were included, of whom 308 (62.1%) had in-hospital follow-ups. Delirium was identi-fied in 112 (22.6%) of all patients and the first line drug used was haloperidol (51.8%). A total of 283 (57.1%) patients died, of whom 81 (28.6%) developed delirium. The occurrence of death was significantly higher in those who developed delirium (72.3%, p <0.001). Associated with higher incidence of delirium were identified in-hospital follow-up (27.9%, p <0.001), infection (53.9%, p <0.001), endocrine (84.6%, p <0.001) and ionic changes (55.0%, p <0.001), use of anticholinergics (54.1%, p = 0.001), antipsychotics (42.6%, p = 0.031), corti-costeroids (37.7%, p = 0.008), and presence of brain metastasis (50.0%, p = 0.046). Conclusion: There is a significant prevalence of delirium in end-of-life patients, which is a predictor of poor prognosis. The implementation of quality palliative care with a multidisciplinary approach may provide more effective control of delirium and reduce its overall prevalence.