RESUMO: O mundo luterano produziu um enorme arcabouço teórico e prático para a composição, interpretação e análise musical. Entre os séculos XVII e XVIII, autores do gênero de escritos que passou a ser conhecido como musica poetica publicaram preceptivas cujas bases teórica, sistemática e terminológica eram emprestadas de retóricas e de poéticas latinas, leituras obrigatórias em todas as escolas luteranas, desde a reforma do ensino, consolidada em 1528, por Martinho Lutero e Philipp Melanchton. Neste artigo, mostraremos como o lugar comum arte-natureza é imitado, a partir de poéticas latinas, em preceptivas musicais setecentistas, em especial, Der vollkommene Capellmeister ("O mestre-de-capela perfeito", 1739), de Johann Mattheson. Abordaremos os conceitos de natureza e de arte para, em seguida, discutir a relação entre eles e o emprego da tópica arte-natureza, por Johann Mattheson, seja a partir da perspectiva do orador perfeito, seja pela tomada da natureza como modelo da arte. Discorreremos, ainda, sobre a ampliação do conceito de natureza, de modo a incluir também a imitação de autoridades e obras, além da naturalidade como objetivo da arte.
ABSTRACT: The Lutheran world produced an extensive theoretical and practical framework for musical composition, interpretation, and analysis. In the seventeenth and eighteenth centuries, the authors of what became known as musica poetica published manuals whose systematic, theoretical, and terminological bases were borrowed from Latin rhetorics and poetics (which were required readings in all Lutheran schools after Luther and Melanchthon's reforms of 1528). In this article, we show how the art-nature commonplace was imitated from Latin poetics in eighteenth-century music manuals, especially in Der vollkommene Capellmeister (The Perfect Chapel Master, 1739) by Johann Mattheson. We treat the concepts of nature and art separately, so as to then elucidate the relationship between these concepts and Mattheson's use of the art-nature commonplace, whether from the perspective of the perfect orator or of taking nature as a model of art. We then discuss the expansion of the concept of nature so as to include the imitation of authors and works, and discuss the idea of naturality as the final purpose of art.