RESUMO. Demência é uma causa de incapacidade e dependência em idosos. A avaliação prognóstica na fase avançada é desafiadora. Objetivo: Avaliar a acurácia dos índices de Charlson e Carey na predição de mortalidade em até três anos de idosos com demência avançada. Métodos: Estudo de coorte retrospectiva que incluiu 238 pacientes acompanhados em ambulatório especializado em um país de renda média, com idade ≥60 anos e demência avançada classificada como estágio ≥6A pela escala Functional Assessment Staging (FAST). Foram excluídos pacientes com dados incompletos para análise. Realizou-se revisão da primeira consulta, que consiste em entrevista com dados clínicos, sociodemográficos e funcionais utilizados para calcular a probabilidade de óbito em três anos, de acordo com os índices. Foram usados modelos de risco proporcional de Cox para avaliar as associações de mortalidade por todas as causas com os dois índices, ajustados para variáveis sociodemográficas. As discriminações dos dois modelos foram comparadas usando o cálculo C de Harrell. Para a calibração, foram calculadas as diferenças absolutas entre os riscos observados e preditos por cada um dos índices. Resultados: Foram avaliados 238 pacientes, com média de idade de 80,5±7,8 anos, 36% do sexo masculino. A mediana do tempo de acompanhamento foi de 1,8 anos (intervalo interquartil=0,05–3,0). A taxa de mortalidade por todas as causas em três anos foi de 50% (119 óbitos). O índice de Carey foi associado à mortalidade, mas o de Charlson não. Um aumento de 1 ponto no Carey foi relacionado a aumento de 15% no risco de morte (hazard ratio [HR]=1,15, intervalo de confiança [IC95%] 1,06–1,25, p=0,001), mesmo após ajuste para variáveis sociodemográficas. A acurácia do índice de Charlson foi de 0,55 (IC95% 0,49–0,60) e a do índice de Carey de 0,60 (IC95% 0,52–0,62), sem diferença significativa na discriminação (p=0,44). Ambos os índices tiveram performances insatisfatórias na discriminação e na calibração. Conclusões: O índice de Carey foi associado à mortalidade, porém esse resultado não foi encontrado para o índice de Charlson. Ambos os índices tiveram desempenho insatisfatório na discriminação e na calibração para predizer a mortalidade em três anos em pacientes com demência avançada, o que indica que esses escores não são recomendados para predizer a mortalidade nessa população.
ABSTRACT. Dementia is a cause of disability among older adults. Accessing advanced dementia prognosis is a challenge. Objective: The objective of this study was to evaluate the accuracy of the Charlson and Carey indexes in predicting 3-year survival of older adults with advanced dementia. Methods: This is a retrospective cohort study of 238 patients aged ≥60 years with advanced dementia from an outpatient clinic and classified as stage ≥6A by using the Functional Assessment Staging scale. We excluded patients with missing data. We reviewed the semi-structured interview (clinical, sociodemographic, and functional data) from the baseline visit. This information was used to calculate 3-year mortality risks according to the Charlson and Carey indexes. We used Cox proportional hazard models to evaluate the associations of all-cause mortality with both indexes, adjusted for sociodemographic variables. We used Harrell’s C measure to determine the discrimination. We calculated the absolute differences between observed and predicted 3-year mortality risks for each index for calibration. Results: In 238 patients, the average age was 80.5±7.8 years, with 36% being men. The median follow-up time was 1.8 years (0.05–3.0). The 3-year all-cause mortality rate was 50% (119 deaths). The Carey index was associated with mortality, with one point increase related to a 15% increase in the mortality risk (hazard ratio [HR]=1.15, 95% confidence interval (95%CI) 1.06–1.25, p=0.001), even after adjustment. Accuracy for the Charlson index and Carey index was 0.55 (95%CI 0.49–0.60) and 0.60 (95%CI 0.52–0.62), respectively, with no difference between them (p=0.44). Conclusions: Both indexes had poor discrimination and calibration performances in predicting 3-year mortality in patients with advanced dementia.