Resumo Os fenômenos de criação e destruição da terra fazem parte da complexa cosmologia Guarani, que foi registrada no livro As lendas da criação e destruição do mundo como fundamentos da religião dos Apapocúva-Guarani, do etnólogo Curt Nimuendaju. Essa visão cataclísmica do mundo leva-os a crer que a terra que hoje conhecemos poderia ser novamente destruída. Em contrapartida, existiria a Yvy marã’ey, uma terra indestrutível, cuja localização é desconhecida, o que em parte explicaria o comportamento migratório dos Guarani. Traduzido como “Terra sem mal”, o termo Yvy marã’ey parece apontar para um caráter utópico e messiânico, tema que será retomado por vários poetas contemporâneos, tais como Sophia de Mello Breyner, Josely Vianna Baptista e Waldo Motta. Este artigo pretende discutir em que medida, ao encenarem um diálogo com a cultura indígena, esses poetas elaboram também uma crítica do presente.
Abstract The phenomena of creation and destruction of the land are part of the complex Guarani cosmology, as recorded in As lendas da criação e destruição do mundo como fundamentos da religião dos Apapocúva-Guarani by the ethnologist Curt Nimuendaju. This cataclysmic view of the world led them to believe that the Earth we know today could once again be destroyed. Instead, there would be the Yvy marã'ey, an indestructible land whose location is unknown, which in part could explain the migratory behaviour of the Guarani. The term Yvy marã’ey, translated as “Land without evil”, seems to point to a utopian and messianic character, a theme that will be taken up by several contemporary poets, such as Sophia de Mello Breyner, Josely Vianna Baptista, and Waldo Motta. This article aims to discuss to what extent these poets also elaborate a critique of the present by staging a dialogue with indigenous cultures.
Résumé Les phénomènes de creation et de destruction de la terre font partie de la complexe cosmologie guaranie, qui a été enrigestrée dans le livre As lendas da criação e destruição do mundo como fundamentos da religião dos Apapocúva-Guarani, par l’ethnologue Curt Nimuendaju. Cette vision cataclysmique du monde les amène à croire que la terre que nous connaissons aujourd’hui pourrait être à nouveau détruite. En revanche, il y aurait Yvy marã’ey, une terre indestructible, dont la localization est inconnue, ce qui expliquerait en partie le comportement migratoire des Guarani. Traduit par “La Terre san mal”, le terme Yvy marã’ey semble être marqué d’un trait utopique et messianique, theme qui sera repris par plusiers poètes contemporains, comme Sophia de Mello Breyner, Josely Vianna Baptista et Waldo Motta. Cet article vise à discuter dans quelle mesure, lors de la mise en scène d’un dialogue avec la culture indigene, ces poètes en élaborent une critique du present.