Resumo Introdução: A laringectomia supratraqueal tem sido descrita como um procedimento cirúrgico com objetivo de preservar a função da laringe (respiração, fonação e deglutição), sem prejuízo no controle oncológico locorregional, para câncer glótico ou supraglótico com extensão à subglote e/ou envolvimento da articulação cricoaritenóidea. A opção pela laringectomia supracricoide nesses casos poderia resultar em grande risco para margens de ressecção comprometidas. Objetivo: Determinar a segurança, viabilidade, adequação das margens cirúrgicas e os resultados da laringectomia supratraqueal para o câncer de laringe intermediário e avançado através da revisão dos resultados de três instituições distintas no Brasil. Método: Estudo retrospectivo, com análise dos prontuários de 29 pacientes submetidos à laringectomia supratraqueal, de outubro de 1997 a junho de 2017. O tipo de laringectomia realizada foi classificado de acordo com a classificação da Sociedade Laringológica Europeia para laringectomias horizontais. Foram avaliados os resultados precoces e tardios. As taxas de sobrevida (global, específica, livre de doença e livre de laringectomia total) foram calculadas. O tempo médio de seguimento foi 44 meses. Resultados: Dos 29 pacientes submetidos à laringectomia supratraqueal, 25 não tinham tratamento prévio. Um paciente (3,4%) teve margens comprometidas. Quatro pacientes (13,8%) recidivaram. Desses, três tiveram recidiva local e um apresentou recidiva regional. Cinco pacientes (17,2%) necessitaram de totalização da laringectomia, duas por ruptura da pexia e três por recidiva local. Quatro desses pacientes (80%) obtiveram sucesso na totalização. Quatro pacientes (13,8%) foram a óbito, dois por complicações pós-cirúrgicas e dois por recidiva. As sobrevidas global, específica, livre de doença e livre de laringectomia total em 5 anos foram, respectivamente, 82,1%; 88,2%; 83,0% e 80,2%. Conclusão: Pacientes selecionados com câncer intermediário e avançado de laringe podem ser beneficiados com laringectomia supratraqueal, que ofereceu sobrevida livre de laringectomia total e sobrevida específica de 80,2% e 88,2%, respectivamente.
Abstract Introduction: Supratracheal laryngectomy has been described as a surgical procedure for glottic or supraglottic cancer extending to the subglottic region and/or involving the cricoarytenoid joint, aiming to preserve laryngeal function (breathing, phonation and swallowing), without diminishing locoregional cancer control. The choice of supracricoid laryngectomy in these cases could result in a high risk of compromised resection margins. Objective: To determine the safety, viability, adequacy of surgical margins and the supratracheal laryngectomy results for intermediate and advanced laryngeal cancer by reviewing the results at three different institutions in Brazil. Methods: This is a retrospective study that analyzed the charts of 29 patients submitted to supratracheal laryngectomy from October 1997 to June 2017. The type of laryngectomy performed was classified according to the European Laryngological Society classification for horizontal laryngectomies. Early and late results were evaluated. Survival rates (overall, specific, disease-free and total laryngectomy-free survival) were calculated. The mean follow-up time was 44 months. Results: Of the 29 patients submitted to supratracheal laryngectomy, 25 had no previous treatment. One patient (3.4%) had compromised margins. Four patients (13.8%) had recurrence. Of these, three had local recurrence and one had regional recurrence. Five patients (17.2%) required a total laryngectomy, two due to ruptured pexy and three due to local recurrence. Four of these patients (80%) achieved a successful total procedure. Four patients (13.8%) died, two due to postoperative complications and two due to recurrence. Overall, specific, disease-free and total laryngectomy-free survival at 5 years were, respectively, 82.1%; 88.2%; 83.0% and 80.2%. Conclusion: Selected patients with intermediate and advanced laryngeal cancer may benefit from supratracheal laryngectomy, that resulted in total laryngectomy-free survival and specific survival of 80.2% and 88.2%, respectively.