Resumo Pradarias de gramas marinhas e vegetação aquática submersa (VAS) estão entre os ecossistemas mais ameaçados do planeta, gerando preocupação sobre o equilíbrio dos ecossistemas costeiros e a sustentabilidade das pescarias. A presente revisão avaliou o estado do conhecimento sobre as pradarias marinhas e VAS do Brasil, considerando as respostas das plantas às condições ambientais, e o possível papel da geomorfologia costeira e variabilidade climática sobre a distribuição e abundância das populações. Apesar do crescente aumento no número de publicações, a comunicação dos resultados ainda é relativamente limitada e destina-se principalmente ao público nacional ou regional. Como resultado, as pradarias de gramas marinhas da América do Sul raramente são incluídas ou citadas em revisões e modelos globais. A escassez de estudos em larga escala e de longo prazo, permitindo a detecção de mudanças na estrutura, abundância e composição dos habitats e espécies associadas, limita a investigação das comunidades no que diz respeito aos efeitos potenciais das mudanças climáticas. Pradarias marinhas e VAS ocorrem ao longo de toda a costa brasileira, mas a distribuição e abundância das espécies são influenciadas pela oceanografia regional, massas de água costeiras, descarga de rios e geomorfologia costeira. Com base nas características oceanográficas, geomorfológicas, hidrológicas e ecológicas, o estudo discutiu a distribuição e abundância dos habitats vegetados pelas distintas regiões costeiras. O estado de conservação das pradarias marinhas e VAS no Brasil é extremamente crítico. A exploração insustentável e ocupação da zona costeira durante os últimos 100 anos conduziram à rápida degradação e perda de muitos dos habitats bentônicos marinhos e costeiros, outrora favoráveis para a ocupação da vegetação aquática. O conhecimento sobre os padrões e processos que regem a estrutura e o funcionamento destas populações e comunidades é fundamental para prever e compreender os efeitos das mudanças climáticas. A presente avaliação é um primeiro passo, necessário para uma abordagem mais integrada e inclusiva sobre a diversidade de formações vegetais costeiras ao longo do Atlântico Sudoeste, bem como um alerta regional a respeito dos efeitos previstos das mudanças climáticas das mudanças globais sobre os produtos e serviços ecossistêmicos prestados pelas pradarias marinhas.
Abstract Seagrass meadows are among the most threatened ecosystems on earth, raising concerns about the equilibrium of coastal ecosystems and the sustainability of local fisheries. The present review evaluated the current status of the research on seagrasses and submerged aquatic vegetation (SAV) habitats off the coast of Brazil in terms of plant responses to environmental conditions, changes in distribution and abundance, and the possible role of climate change and variability. Despite an increase in the number of studies, the communication of the results is still relatively limited and is mainly addressed to a national or regional public; thus, South American seagrasses are rarely included or cited in global reviews and models. The scarcity of large-scale and long-term studies allowing the detection of changes in the structure, abundance and composition of seagrass habitats and associated species still hinders the investigation of such communities with respect to the potential effects of climate change. Seagrass meadows and SAV occur all along the Brazilian coast, with species distribution and abundance being strongly influenced by regional oceanography, coastal water masses, river runoff and coastal geomorphology. Based on these geomorphological, hydrological and ecological features, we characterised the distribution of seagrass habitats and abundances within the major coastal compartments. The current conservation status of Brazilian seagrasses and SAV is critical. The unsustainable exploitation and occupation of coastal areas and the multifold anthropogenic footprints left during the last 100 years led to the loss and degradation of shoreline habitats potentially suitable for seagrass occupation. Knowledge of the prevailing patterns and processes governing seagrass structure and functioning along the Brazilian coast is necessary for the global discussion on climate change. Our review is a first and much-needed step toward a more integrated and inclusive approach to understanding the diversity of coastal plant formations along the Southwestern Atlantic coast as well as a regional alert the projected or predicted effects of global changes on the goods and services provided by regional seagrasses and SAV.