Resumo: O texto discute a relação entre a educação e a organização democrática do governo republicano. Para o autor, pelo menos desde Kant os teóricos clássicos da filosofia política estavam convencidos de que uma boa educação e uma ordem estatal republicana dependem uma da outra: formar cidadãos para a liberdade para que, como cidadãos autônomos institucionalizem uma educação pública que possibilite a seus filhos o caminho para a maioridade política. Mas ele constata hoje um divórcio entre as gêmeas teorias da democracia e da educação. Razões que podem ter levado a essa cisão ele localiza na combinação, por afinidades eletivas, entre uma concepção truncada de democracia, que dependeria de comunidades tradicionais e mesmo religiosas para reproduzir suas bases ético-culturais, e uma falsa concepção normativa de neutralidade do estado, que culmina concebendo os professores não mais como servidores públicos a serviço do estado democrático de direito, mas como servidores dos pais. Em contraposição ao desacoplamento entre a formação do cidadão autônomo e do governo autônomo dos cidadãos, entre pedagogia e teoria política, ele reconstrói, a partir dos clássicos da teoria social, a concepção sobre um nexo fundamental entre educação e liberdade política, entre formação e democracia. Longe de advogar por uma volta à escola tradicional, o autor chama a atenção para dois grandes desafios que juntas, pedagogia e teoria democrática precisam enfrentar: o impacto da revolução digital sobre a esfera pública e a crescente heterogeneidade cultural dos cidadãos, em especial nas democracias ocidentais, para que a educação torne a ser o lugar do aprendizado da cultura democrática. (Resumo do editor).
Abstract: The text discusses the relationship between education and democratic organization of the republican government. For the author, at least since Kant’s political philosophy classical theorists were convinced that a good education and a republican state order depend from and are complementary to one another. to educate citizens for freedom so that, as autonomous citizens, they can institutionalize a public education that enables their children to find the way for the political majority. But today we can see a divorce between the twin theories of democracy and education. Reasons that may have led to this split he finds in the combination, by elective affinities, between a truncated conception of democracy, which depends on traditional and even religious communities to reproduce the own ethical and cultural foundations, and a false normative conception of the neutrality of the state, conceiving teachers not as public servants serving a democratic state of law, but as parents servants. In contrast to the decoupling between the formation of the autonomous citizens and the self-government, between pedagogy and political theory, the author reconstructs the classical conception of a fundamental link between education and political freedom, between education and democracy. Far from advocating for a return to the traditional thought, the author draws attention to two major challenges pedagogy and democratic theory must confront together: the impact of the digital revolution on the public sphere and the growing cultural diversity of citizens, especially in Western democracies. Only so education can again be the place of learning democratic culture. (Editor’s abstract).