Resumo: Apesar dos grandes impactos da invasão do javali (Sus scrofa) nos ecossistemas naturais, o uso de hábitats por esta espécie nos neotrópicos ainda permanece pouco estudado. Aqui, nós investigamos os efeitos do hábitat local e de covariáveis da paisagem (tipos de vegetação, cursos d'água e estradas) sobre os padrões de ocupação do javali na Mata Atlântica do sul do Brasil. Utilizamos a modelagem de ocupação de estação única para estimar as probabilidades de detecção (p) e de ocupação (ψ) dos javalis, usando monitoramento de armadilha fotográfica por 8 dias em 100 locais. As câmeras detectaram javalis em 64 locais (ocupação ingênua = 64%). Os quatro melhores modelos explicaram 72,7% dos padrões de ocupação, e o melhor modelo (com variável "água") teve um peso de 28,5%. Embora nenhuma das variáveis testadas apresentaram alto poder explicativo na ocupação do javali, a variável água foi a que contribuiu com uma tendência de efeito negativo (β = -1,124; SE = 0,734), com 59% de ocupação quando a água estava presente e 82% quando estava ausente nos pontos de amostragem. Vestígios da presença de javali em diferentes tipos de vegetação revelaram que eles utilizaram plantações de Pinus sp., florestas nativas e culturas de milho e aveia. O padrão de ocupação mostra que o javali é extremamente generalista em nosso local de estudo na Mata Atlântica, sendo encontrado em todos os lugares, o que levanta preocupações ecológicas e econômicas sobre os potenciais efeitos negativos de sua invasão.
Abstract: Despite the great impacts of invasive wild pig (Sus scrofa) to natural ecosystems, habitat use by this species in the neotropics remains poorly studied. Here, we investigated the effects of local habitat and landscape covariates (vegetation types, running watercourses and roads) on occupancy patterns of wild pig in the Atlantic Forest of southern Brazil. We used single season occupancy modeling to estimate detection (p) and occupancy (ψ) probabilities, using 8-day camera-trap monitoring of 100 sampled sites. The cameras detected wild pig in 64 sites (naïve occupancy = 64 %). The four best models explained 72.7 % of the occupancy patterns, and the top model (with "water" variable) had a weight of 28.5 %. Even though none of the tested variables had high explanatory power of wild pig occupancy, the water variable had a negative effect trend (β = -1.124; SE = 0.734), with 59 % of occupancy when water was present and 82 % when it was absent around the sampling sites. Vestiges of the presence of wild pig in different vegetation types revealed that they used plantations of Pinus sp., native forests, and corn and oat crops. The occupation pattern shows that wild pig are generalist at our study site at the Atlantic Forest being found everywhere, raising ecological and economic concerns about the high potential negative effects of its invasion.