Resumo Entre setembro e dezembro de 1952, Helen Caldwell, que acabara de concluir a primeira tradução para o inglês de Dom Casmurro, e o editor Cecil Hemley, que preparava a publicação do livro pela Noonday Press, mantiveram intensa correspondência. Em meio à revisão de detalhes da tradução, expressaram também suas discordâncias em relação à interpretação até então dominante sobre o romance, lançando as bases para uma leitura alternativa da história de Bento Santiago e Capitu. Na correspondência entre Nova York e Los Angeles, formulava-se o dilema que se tornaria o maior lugar-comum produzido a partir da leitura de um texto literário no Brasil: "Afinal, Capitu traiu ou não traiu?" Tomando como base a correspondência entre Helen Caldwell e seu editor, e examinando especialmente quatro cartas traduzidas e incluídas em anexo, este artigo mostra como se forjou a interpretação que mudaria a leitura do livro e do autor mais canônicos da literatura brasileira.
Abstract Between September and December 1952, Helen Caldwell, who had just finished her translation of Dom Casmurro into English, and editor Cecil Hemley, who was preparing the publication of the book at the Noonday Press, kept up an intense correspondence. In reviewing the details of the translation, they also expressed their disagreements regarding the until-then prevailing interpretation of the novel, and in so doing set the ground for an alternative reading of the story about Bento Santiago and Capitu. In the letters airmailed between New York and Los Angeles, these two minds formulated the dilemma that would become the greatest commonplace derived from reading a literary text in Brazil: "In the end, did Capitu cheat on Bento or not?" Based on the correspondence between Helen Caldwell and her editor, and paying particular attention to the appended four letters presented in their original format, this article reveals how the interpretation that would change the reading of the most canonical book and author in Brazilian literature was forged.