Machado de Assis (1839-1908) é considerado um dos mais importantes escritores brasileiros e uma grande personalidade literária universal. Pouco se sabe sobre sua história médica, pessoal e familiar. Machado referiu ter tido na infância crises epilépticas, caracterizadas como «coisas esquisitas». Ele descrevia suas crises epilépticas como «fenômenos nervosos», «ausências» ou «minha doença». Carlos de Laet assistiu a uma crise e descreveu-a «... quando de nós se acercou o Machado e dirigiu-me palavras em que não percebi nexo. Encarei-o surpreso e achei-lhe demudada a fisionomia. Sabendo que de tempos em tempos o salteavam incômodos nervosos, despedi-me do outro cavalheiro, dei o braço ao amigo enfermo, fi-lo tomar um cordial na mais próxima farmácia e só o deixei no bonde das Laranjeiras, quando o vi de todo restabelecido, a proibir-me, que o acompanhasse até casa». Mostramos uma fotografia de Machado durante uma crise no Caes Pharoux no dia 1º de setembro de 1907, documentada pelo fotógrafo Malta. Mário de Alencar escreveu: «A preocupação com a saúde era freqüente: ou havia os efeitos de um acesso do mal terrível ou a iminência dele. Falava-me como a seu próprio médico, confiando-me tudo, consultando-me sobre minúcias da moléstia e o que havia de dizer ao seu facultativo». Parece-nos claro que Machado apresentava epilepsia localizada sintomática com crises parciais complexas secundariamente generalizadas, de etiologia desconhecida. As crises iniciaram na infância, tiveram remissão na adolescência e recidivaram na terceira década, tornando-se mais freqüentes nos últimos anos. Machado apresentou episódios de depressão que se «acentuaram na última década. Em nossa opinião, a maior conseqüência da epilepsia de Machado de Assis foi o sofrimento psicológico devido ao preconceito vigente. A despeito disto, Machado foi capaz de mostrar toda a sua genialidade, que ainda é atual e cada vez mais reconhecida universalmente.
Machado de Assis (1839-1908) is considered the most important Brazilian writer and a great universal literary figure. Little is know about his medical, personal and family history. He hid his «disease» as much as possible. Machado referred to «strange things» having happened to him in his childhood. He described seizures as «nervous phenomena», «absenses», «my illness». Laet observed a seizure and described it as: «... when Machado approached us and spoke to me in disconnected words. I looked at him in surprise and found his features altered. Knowing that from time to time he had nervous problems,... and only permitted Machado take the Laranjeiras Street car, when I saw that he was completely well». A photographically documented seizure is shown. Alencar wrote, «The preoccupation with health was frequent: either he was having the consequences of a fit or was foreboding one». It is clear that Machado presented localized symptomatic epilepsy with complex partial seizures secondarily generalized of unknown etiology. The seizures which began in infancy or childhood had remission in adolescence and then recurred in his thirties and became more frequent in his later years. His depression got markedly worse with age. In our opinion, the greatest consequence of Machado's epilepsy, was his psychological suffering due to the prejudice of the times. Despite this Machado showed all his genius, which is still actual and universal.