RESUMO A noção comum de artefatos os caracteriza como produtos de atividades bem-sucedidas de seus fabricantes, orientadas por intenções de que tais objetos instanciassem determinadas características, tais como suas funções específicas. Diversos contraexemplos, no entanto, revelam a inadequação da noção comum. Diante dessa constatação, o artigo explora a possibilidade de que características de artefatos, e mais especificamente, a posse de suas funções, possam decorrer, ao menos em parte, de atribuições coletivas. Para atingir o referido objetivo, o artigo examina de forma crítica algumas noções e teses propostas por John Searle (1996; 2010) e outros. Seu principal resultado, no entanto, consiste em oferecer e elucidar uma tese original, a saber, que as funções de muitos artefatos seriam mantidas, parcialmente, por formas de intencionalidade coletiva contínua, que podem conter estados intencionais coletivos conscientes ou inconsciente, ativos ou inativos.
ABSTRACT The common notion of artifacts characterizes them as the products of successful activities of their makers, guided by intentions that such objects would instantiate certain features, such as their specific functions. Many counterexamples, however, reveal the unsuitability of the common notion. In the face of this acknowledgment, the paper explores the possibility that features of artifacts, and more specifically, the possession of their functions, may arise, at least partially, from collective assignments. In order to achieve the mentioned goal, the paper critically examines some notions and theses put forward by John Searle (1996; 2010) and others. Its main result, however, consists in offering and elucidating an original thesis, namely, that the functions of many artifacts would be maintained, partially, by forms of continuous collective intentionality, which can involve conscious or unconscious, active or inactive collective intentional states.