Objetivo: Esposas de jogadores patológicos tendem a permanecer casadas por muitos anos, apesar das dificuldades financeiras e emocionais. Dificuldades de ajustamento social, transtornos de personalidade, e comorbidades com transtornos psiquiátricos são apontados como razões para permanecerem nesses relacionamentos tão opressivos. O objetivo foi examinar o ajustamento social, a personalidade e as emoções negativas das esposas de jogadores patológicos. Método: A amostra foi constituída por 25 esposas de jogadores patológicos, média de idade 40,6 anos (DP = 9,1), do Ambulatório de Jogadores Patológicos e do Jog-Anon, e 25 esposas de não jogadores, média de idade 40,8 anos (DP = 9,1), que responderam a anúncios colocados no complexo do hospital da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo. Foram selecionadas aquelas que apresentavam características demográficas próximas às das esposas de jogadores patológicos. Os sujeitos foram avaliados por meio da Escala de Ajustamento Social, do Inventário de Temperamento e Caráter, do Inventário de Depressão de Beck, e do Inventário de Ansiedade Traço-Estado. Resultados: Três variáveis permaneceram no modelo final da Análise de Regressão Logística Múltipla. Esposas de jogadores patológicos apresentaram maior insatisfação no relacionamento marital e escores mais altos nos fatores de temperamento Dependência de Gratificação e Persistência. Ambas, as esposas de jogadores patológicos e de não jogadores apresentaram fatores de caráter bem estruturados, excluindo transtornos de personalidade. Conclusão: Este perfil de personalidade pode explicar a resiliência emocional das esposas de jogadores patológicos e a longa duração de seus casamentos. Codependência e outros rótulos utilizados anteriormente para descrevê-las podem, de um lado, legitimar seus problemas e, de outro, estigmatizá-las como inaptas e carentes.
Objective: Wives of pathological gamblers tend to endure long marriages despite financial and emotional burden. Difficulties in social adjustment, personality psychopathology, and comorbidity with psychiatric disorders are pointed as reasons for remaining on such overwhelming relationships. The goal was to examine the social adjustment, personality and negative emotionality of wives of pathological gamblers. Method: The sample consisted of 25 wives of pathological gamblers, mean age 40.6, SD = 9.1 from a Gambling Outpatient Unit and at GAM-ANON, and 25 wives of non-gamblers, mean age 40.8, SD = 9.1, who answered advertisements placed at the Universidade de São Paulo hospital and medical school complex. They were selected in order to approximately match demographic characteristics of the wives of pathological gamblers. Subjects were assessed by the Social Adjustment Scale, Temperament and Character Inventory, Beck Depression Inventory and State-Trait Anxiety Inventory. Results: Three variables remained in the final Multiple Logistic Regression model, wives of pathological gamblers presented greater dissatisfaction with their marital bond, and higher scores on Reward Dependence and Persistence temperament factors. Both, Wives of pathological gamblers and wives of non-gamblers presented well-structured character factors excluding personality disorders. Conclusion: This personality profile may explain wives of pathological gamblers emotional resilience and their marriage longevity. Co-dependence and other labels previously used to describe them may work as a double edged sword, legitimating wives of pathological gamblers problems, while stigmatizing them as inapt and needy.