Resumo: Embora tenham suas especificidades - geográficas, demográficas, políticas, econômicas, étnicas e raciais, tanto o Brasil quanto a Guiné-Bissau são ex-colônias portuguesas e apresentam-se como duas realidades sociais em que as mulheres negras, etnicamente diferenciadas e racializadas, elaboram um novo tipo de feminismo a partir de suas relações com ações coletivas dos seus grupos de pertença na reivindicação dos próprios direitos. Referindo-se à América Latina, Lugones (2008) demonstrou como a colonialidade do poder, resultante da experiência e da hierarquia racial da colonização, significou também uma colonialidade de gênero, mas, em que medida é também uma realidade para o contexto africano? Como procuramos demonstrar, o próprio conceito de raça e, consequentemente, de racismo, assumem dinâmicas diferenciadas nas duas sociedades. E o uso do conceito de gênero parece ser mais importante para pensar como as desigualdades se estruturam no Brasil, se comparado à experiência nos países africanos, particularmente na Guiné-Bissau. Nosso objetivo é analisar a experiência do "feminismo negro" nos dois países, numa perspectiva comparada. Buscamos compreender em que medida essas duas realidades apresentam cenários similares no que tange às lutas ideológicas, políticas e sociais das mulheres.
Abstract: While considering its geographic, demographic, political and economic, ethnic and racial specificities, both Brazil and the Guinea-Bissau were colonized by the Portuguese, and are presented as two social realities in which black women, ethnically differentiated and racialized, prepare a new kind of feminism from its relations with collective actions of the groups they belong in claiming for their rights. Referring to Latin America, Lugones (2008) demonstrated how the coloniality of power, resulting from experience and racial hierarchy of colonization, also meant a gender coloniality; but to what extent is this also a reality for the African context? As we seek to demonstrate, the concept of race and consequently racism, assume different dynamics in both societies. The use of the concept of gender seems to be more important to consider how inequalities are structured in Brazil, compared to the experience in African countries, particularly in Guinea Bissau. Our goal is to analyze the experience of "black feminism" in both countries in a comparative perspective, and try to understand to what extent these two realities present similar scenarios regarding women's ideological, political and social struggles.