RESUMO Objetivo: Avaliar a utilidade da autópsia no diagnóstico de lesões despercebidas (LD) e no estabelecimento de metas para programa de qualidade em trauma. Método: análise retrospectiva dos laudos de autópsia por trauma entre outubro/2017 e março/2019 provenientes do mesmo hospital. Lesões descritas na autópsia, mas não no prontuário médico, foram consideradas como despercebidas (LD) e classificadas pelos critérios de Goldman: Classe I: mudariam a conduta e alterariam o desfecho; Classe II: mudariam a conduta, mas não o desfecho; Classe III: não mudariam nem a conduta nem o desfecho. As variáveis coletadas foram comparadas entre o grupo com LD e os demais, através de método estatístico orientado por profissional na área. Consideramos p<0,05 como significativo. Resultados: analisamos 192 casos, com média etária de 56,8 anos. O trauma fechado foi o mecanismo em 181 casos, sendo 28,6% por quedas da própria altura. LD foram observadas em 39 casos (20,3%), sendo 3 (1,6%) classe I e 11 (5,6%) classe II. O tórax foi o segmento com maior número de LD (25 casos - 64,1% das LD). Foram associados à presença de LD (p<0,05): tempo de internação menor que 48 horas, mecanismo de trauma grave e a não realização de procedimento cirúrgico ou tomografia. Nos óbitos até 48h, valores de ISS e NISS nas autópsias foram maiores que os da internação. Conclusão: a revisão das autópsias permitiu identificação de LD, na sua maioria sem influência sobre conduta e prognóstico. Mesmo assim, várias oportunidades foram criadas para o programa de qualidade.
ABSTRACT Objective: to assess the role of autopsy in the diagnosis of missed injuries (MI) and definition of trauma quality program goals. Method: Retrospective analysis of autopsy reports and patient’s charts. Injuries present in the autopsy, but not in the chart, were defined as “missed”. MI were characterized using Goldman’s criteria: Class I, if the diagnosis would have modified the management and outcome; Class II, if it would have modified the management, but not the outcome; Class III, if it would not have modified neither the management nor the outcome. We used Mann-Whitney’s U and Pearson’s chi square for statistical analysis, considering p<0.05 as significant. Results: We included 192 patients, with mean age of 56.8 years. Blunt trauma accounted for 181 cases, and 28.6% were due to falls from the same level. MI were diagnosed in 39 patients (20.3%). Using Goldman’s criteria, MI were categorized as Class I in 3 (1.6%) and Class II in 11 (5.6%). MI were more often diagnosed in the thoracic segment (25 patients, 64.1% of the MI). The variables significantly associated (p<0.05) to MI were: time of hospitalization < 48 h, severe trauma mechanism, and not undergoing surgery or computed tomography. At autopsy, the values of ISS and NISS were higher in patients with MI. Conclusion: the review of the autopsy report allowed diagnosis of MIs, which did not influence outcome in their majority. Many opportunities of improvement in quality of care were identified.