neste trabalho abordamos a importância da imaginação para o desenvolvimento e focalizamos o brincar como uma instância particularmente propícia a esse processo. O papel formativo atribuído a essa atividade é geralmente pequeno, e tende a ser tratada de maneira muito ambígua no trabalho educacional. Esse problema se intensifica quando a deficiência mental está envolvida, devido ao descrédito adicional em relação às possibilidades da criança. Com base na perspectiva histórico-cultural, realizamos um estudo sobre o brincar de doze sujeitos, na faixa etária de 4 a 6 anos, que freqüentavam uma instituição especial. A maioria deles tinha déficits nas áreas de cognição e linguagem; alguns enfrentavam também sérias limitações motoras. O objetivo foi investigar relações entre a mediação de outros - adultos e parceiros - e as ações imaginativas da criança, em termos da capacidade de transcender o campo perceptual imediato e compor seqüências de faz-de-conta. O trabalho de campo consistiu de sessões semanais de brincadeira livre, durante um período de sete meses. As atividades foram gravadas em vídeo, e as análises se guiaram por uma abordagem microgenética. Os achados mostram que, quando deixadas com seus próprios recursos, essas crianças apresentam uma baixa disposição a entrar em brincadeiras coletivas e a compartilhar de diálogos. No entanto, dependendo das formas de mediação dentro do grupo, elas podem engajar-se em situações imaginárias relativamente complexas, com características que sugerem contribuições para o desenvolvimento intelectual, na compreensão do contexto cultural, bem como para a emergência de elaborações criativas sobre o mundo.
in this paper we address the importance of imagination in development and focus on play as an especially privileged instance in this process. The formative role ascribed to this activity is often small, and it tends to be treated in a very ambiguous way in educational work. This problem is magnified when mental deficiency is involved, due to the added discredit of the child's possibilities. Based on the historical-cultural perspective we carried out a study on the play of twelve subjects, 4 to 6 year-old, who attended a special institution. Most of them had deficits in the areas of cognition and language; some also presented serious motor limitations. The objective was to investigate the relation between the mediation of others - adults and peers - and the child's imaginative actions, concerning his ability to transcend the immediate perceptual field and to compose make-believe sequences. The field work consisted of weekly sessions of free play, over a seven month period. The activities were video recorded, and the analyses were guided by a microgenetic approach. The findings show that, when left to their own resources, the subjects present a low inclination to join in collective play and to share in dialogues. However, depending on the forms of mediation within the group, they can engage in relatively complex imaginary situations, with characteristics that suggest contributions to intellectual development, in the comprehension of the cultural context, as well as to the emergence of creative elaborations about the world.