Resumo O mimetismo é um ótimo exemplo de como a seleção natural pode agir sobre a coloração, morfologia e comportamento das espécies. Neste trabalho nós utilizamos as taxas de predação em mímicos de cobras corais no Brasil Central, uma região com muitos mímicos mas apenas um modelo, para responder as seguintes questões: (i) Os predadores evitam atacar os mímicos das cobras-corais? (ii) O grau de semelhança de cada mímico em relação ao modelo afeta a frequência de ataque dos predadores? (iii) A região do corpo na qual os predadores atacam varia entre os diferentes mímicos? O estudo foi realizado no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, município de Alto Paraíso de Goiás, estado de Goiás, Brasil. Para avaliar as taxas de predação nos diferentes padrões, nós utilizamos 2400 réplicas construídas com massa de modelar pré-colorida e não tóxica e distribuídas em fitofisionomias abertas de Cerrado do Parque. Um total de 164 (6.83%) réplicas foram atacadas por predadores de serpentes, sendo 121 réplicas atacadas por aves e 43 por mamíferos. A análise de regressão logística e o teste exato de Fisher indicaram que as réplicas com cores vermelha, preto e branco são menos propensas a serem atacadas do que as réplicas cinzas e que essas réplicas com cores de cobra-coral são mais atacadas na extremidade da “cabeça”. Além disso, quanto maior a semelhança do padrão da cobra-coral verdadeira, menor a probabilidade da réplica ser atacada. Este estudo evidencia a grande força seletiva de serpentes corais sobre a proteção de serpentes miméticas e reforça a semelhança do modelo como uma estratégia extremamente eficiente em um sistema complexo com um modelo e vários mímicos.
Abstract Mimicry is an excellent example of how natural selection can act on color, morphology, and behavior of species. Herein we assess predation rates on coral snake mimics in Central Brazil, a region with many mimics but only a single model, to answer the following questions: (i) Do predators avoid attacking coral snake mimics? (ii) Does the degree to which mimics resemble their venomous model affect the frequency of predator attacks? (iii) Do predators attack different body regions in mimics with different color patterns? Our experiment was conducted in the Chapada dos Veadeiros National Park, in the municipality of Alto Paraíso de Goiás, state of Goiás, Brazil. To evaluate predation rates on the different mimic patterns, we made 2,400 clay snake replicas using pre-colored nontoxic plasticine and distributed them in open savanna landscapes within the park. A total of 164 (6.83%) replicas were attacked by predators of snakes. Among these attacks, 121 were attacks by birds, and 43 were attacks by carnivorous mammals. Logistic regression and Fisher’s exact test indicated that replicas with red, white, and black coloration are less likely to be attacked than were grey replicas, and coral snake replicas were attacked more often at the “head” end. Also, the greater the similarity to the pattern of venomous coral snakes, the rarer the attack on the replica. Our study underscores the strong selective force that protects coral snake mimics from predators. Our findings reinforce resemblance to the model as an extremely effective strategy in a complex natural system with only one model and numerous mimics.