RESUMO Trata-se de artigo que tem como objetivo problematizar diferentes acontecimentos vividos na imanência de uma vida, a partir de alguns fios de memórias assumidos como possibilidades de escritas de produção de si e de invenção de mundos. Nesse sentido, busca escapar, das representações e das explicações que se insinuam como atestados de verdade do vivido, aliados à hipertrofia do Eu, marcas do capítulo da Modernidade que celebra o surgimento de um sujeito autocentrado e dotado de uma consciência plena. Para tanto, busca enredar diferentes temporalidades que se constituíram como processos de autoformação, em meio a epistemologias e experimentações de vida, assumidas como dobras que nos permitiram evidenciar questões afetas às rupturas e às descontinuidades, de modo a nos ajudar a defender que uma vida está sempre em excesso em relação a qualquer escrita que se faça sobre ela. Se, ao final da leitura, surgir um fio de Ariadne que se mostre como um enredo preestabelecido por nós trata-se, certamente, de um efeito que reverberou com o próprio ato da escrita e não como efeito de uma intenção-causa primeira. Se me perguntarem: Houve esse memorial ou você inventou? Eu diria: Se não houve, agora, porque escrevi, passou a existir. Ele nunca aconteceu como verdade a priori para que possa insurgir como invenção, quantas vezes forem necessárias.
ABSTRACT This article aims to problematize different events experienced in the immanence of a life. It is based on some threads of memories assumed as possible written productions of one's self and the invention of worlds, seeking to escape the representations and explanations that are implied as attestations of truth of what has been lived, allied to the hypertrophy of the Self, which are marks of the chapter of Modernity that celebrates the emergence of a self-centered subject who is endowed with mindfulness. To this end, it seeks to intertwine different temporalities that were constituted as processes of self-education, in the midst of epistemologies and life experiments, assumed as folds that allowed us to highlight issues related to ruptures and discontinuities, in order to help us advocate that a life is always in excess in relation to any writing produced about this life. If, at the end of the reading, a thread of Ariadne appears as a plot pre-established by us, it is certainly an effect that reverberated with the act of writing itself and not as an effect of a prior intention-cause. If I am asked: Was there this memorial or did you make it up? I would say: If there wasn't, now, because I wrote, it came into being. It never happened as a priori truth so that it can rise as an invention, as many times as necessary.