Resumo Este artigo analisa a evolução do pensamento higienista como biopolítica na cidade brasileira, especialmente no que se refere à sua influência sobre a forma urbana. A perspectiva histórica aqui adotada parte do pressuposto de que o higienismo jamais foi superado enquanto modelo urbanístico, mas que evoluirá, adequando-se a novos princípios e técnicas de ação decorrentes de razões de ordem social, econômica e política. Em tal perspectiva, considera-se a hipótese de que, desde o final do séc. XIX, o higienismo assumiu três encarnações em função de sua instrumentalização em políticas urbanas, a saber: higienismo sanitarista (1890-1930), higienismo universalista (1930-1990) e higienismo ambiental (1990-2020). A grande crise sanitária de 2020 parece indicar o fim de um ciclo e início de outro, cujos contornos ainda são nebulosos, mas que aqui o denominamos de “higienismo virtual”, com base em uma prospecção de algumas de suas causas e efeitos.
Abstract This work analyzes the evolution of hygienist thought as biopolitics in the Brazilian city, especially in terms of its influence on urban form. The historical perspective adopted here assumes that hygienism has never been overcome as an urban model but that it will evolve, adapting to new principles and techniques of action arising from social, economic, and political reasons. In this perspective, it is considered the hypothesis that, since the end of the 19th century, hygienism took on three incarnations due to its instrumentalization in urban policies, namely: sanitary hygienism (1890-1930), universalist hygienism (1930-1990) and environmental hygienism (1990-2020). The major health crisis of 2020 seems to indicate the end of a cycle and the beginning of another, whose contours are still hazy, but which we call here “virtual hygienism”, based on a prospection of some of its causes and effects.