RESUMO Este artigo objetiva investigar os possíveis efeitos das ações de um projeto de extensão no desenvolvimento da consciência crítica (FREIRE, 2005), em especial no que diz respeito a questões de gênero e raça. Mais especificamente, o estudo tem como foco principal as atividades de leitura realizadas por uma equipe multidisciplinar com mulheres em privação de liberdade, que incluíram a apresentação e discussão de três obras de escritoras negras: Olhos D’Água (Conceição Evaristo), Quarto de Despejo (Carolina Maria de Jesus), e Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis (Jarid Arraes). Neste estudo, investigamos o diário reflexivo de uma das discentes extensionistas da equipe executora bem como os questionários com as percepções das mediadoras do projeto - professoras, técnicas administrativas e discentes - acerca das obras de autoras mulheres negras selecionadas e das atividades propostas a partir delas. A partir da visão das mediadoras do projeto, destaca-se não apenas o papel da literatura na reflexão acerca de questões de gênero, classe e raça, mas também a importância de que as atividades considerem as subjetividades de todos os sujeitos deste processo para que o diálogo crítico ocorra em uma atmosfera segura e acolhedora. Por fim, as percepções apontam a relevância de atividades culturais e literárias no processo de humanização - tanto da equipe proponente quanto das mulheres em privação de liberdade -, evidenciando a importância de políticas públicas que compreendam a arte e a cultura enquanto direito humano no contexto de privação de liberdade.
ABSTRACT This article aims at investigating the possible effects of an outreach project in the process of critical consciousness development (FREIRE, 2005), especially in relation to gender and race issues. More specifically, the study focuses on the reading activities designed by a multidisciplinary team for freedom-deprived women, which included the presentation and discussion of three books written by black women: Olhos D’Água (Conceição Evaristo), Quarto de Despejo (Carolina Maria de Jesus), and Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis (Jarid Arraes). To do so, we investigate the reflexive diary of one of the students who is part of the multidisciplinary team as well as the questionnaires containing the perceptions of the project mediators - teachers, administrative technicians in education and undergraduate students - regarding their experience of reading the selected books and of participating in and mediating the proposed activities. The views of the project mediators highlight not only the role of literature in promoting reflection regarding gender, class and race, but also the importance of taking into consideration the subjectivities of those involved in the process so that critical dialogue may happen in a safe and welcoming environment. At last, perceptions point out the relevance of cultural and literary activities in the process of humanization - of both mediators and incarcerated women -, showing thus the importance of public policies that conceive art and culture as human rights in the context of freedom deprivation.