Resumo Este artigo objetiva tratar das aproximações e dos distanciamentos entre duas figuras fundamentais para os processos de Estado, as vítimas e seus algozes. Estruturando-se a partir de dois momentos etnográficos distintos, o momento da entrevista com Rosa, uma militante de Direitos Humanos e mãe de Gabriel, um menino cujo assassinato teria sido motivado por homofobia, e o momento da sessão do tribunal do júri que levou à condenação dos dois acusados por esse homicídio, este texto tematiza as “reciprocidades constitutivas” entre relações de gênero, sexualidade, classe, racialização, geração etc. que compõem as narrativas e experiências muito próximas da vítima e dos algozes e fazem de todos eles alvos prioritários dos processos mais amplos de criminalização e violência. Considerando, ainda, a relevância das noções de “crime” e “violência” na contextura das formas estatais de inteligibilidade, este texto aborda, também, o lugar do crime no interior daquelas reciprocidades constitutivas, distinguindo-o do objeto central dos confrontos em que Rosa se encontra implicada, a violência, então compreendida como o excesso, o inadmissível narrativo que, contraditoriamente, compõe a possibilidade de reconhecimento das vítimas, os meninos de Rosa.
Abstract This article aims to discuss about the approximations and distances between two fundamental figures of the State processes, the victims and their executioners. Structured by two distinct ethnographic moments, the moment of the interview with Rosa, a Human Rights activist and Gabriel’s mother, a boy whose murder would have been motivated by homophobia, and the moment of the jury trial session that took the two defendants for Gabriel’s death to condemnation, this text brings as subjects the “constitutive reciprocities” among genre relations, sexuality, class, racialization, generation etc. that compose victims and executioners’ narratives and very close experiences and make them all primary targets for the wider processes of criminalization and violence. Considering yet the importance of the notions of crime and violence to the contexture of the Statal forms of intelligibility, this text also approaches the crimes’ place inside those constitutive reciprocities, distinguishing it from the core objects of the fights Rosa is implicated in, and the violence comprehended then as the overmeasured, the inadmissible narrative that contradictorily composes the possibility of recognition of the victims, Rosas’s boy.