A doença hipertensiva específica da gravidez (DHEG), na sua forma pura, caracteriza-se pelo aparecimento, em grávida normotensa, após a vigésima semana de gestação, da tríade sintomática: hipertensão, proteinúria e edema. Nessa doença, não ocorrem as alterações hemodinâmicas observadas na gravidez normal, que incluem ajustes na fisiologia renal e cardiovascular. A manifestação mais característica da DHEG é uma vasoconstrição arteriolar acentuada, que acarreta um aumento da resistência vascular periférica e tem como conseqüência imediata o aparecimento da hipertensão. Evidências de aumento do consumo plaquetário e de disfunção das células endoteliais têm sido observadas na DHEG. Conclusões conflitantes com relação ao sistema fibrinolítico foram obtidas, onde um aumento, diminuição ou inalteração da função desse sistema em gestantes com DHEG, comparando-se à gestantes normais, foram relatados. Considerando-se que o diagnóstico da DHEG é essencialmente clínico e, muitas vezes, difícil de ser estabelecido, inúmeros têm sido os esforços para se determinar parâmetros hemostáticos que tenham um valor preditivo no diagnóstico e prognóstico da doença. Nesse sentido, a contagem de plaquetas, a determinação da trombomodulina, do complexo trombina-antitrombina III e do inibidor do ativador do plasminogênio tipo 2 foram propostas como parâmetros auxiliares para o diagnóstico da doença. No entanto há ainda muita controvérsia quanto à utilidade desses possíveis marcadores laboratoriais, e nenhum deles é plenamente aceito. Recentemente, foi sugerida uma associação entre a ocorrência de complicações da gravidez, incluindo-se a DHEG, e a presença de mutações genéticas que favorecem a manifestação de eventos tromboembólicos. Dessa forma, foi proposta a avaliação hemostática das gestantes que manifestaram a DHEG, mesmo sem história de episódio tromboembólico anterior, através da determinação de marcadores de tromboembolismo, como um parâmetro para o planejamento de futuras gestações, uma vez que a recorrência da DHEG é da ordem de 20%.
Preeclampsia (PE) characterises by development of hypertension, proteinuria and swelling in pregnant women around 20th pregnancy week. The hemodynamic changes observed in the normal pregnancy comprising renal and cardiovascular adaptations that did not occur in PE. The most important feature of this disease is a pronounced arteriolar vasoconstriction leading to a increase of the peripheral vascular resistance responsable to high blood pressure. Evidences of platelet consumption and endothelial cell disfunction have been observed in PE. Conflicting opinions related to the fibrinolytic system have been raised on the literature including increase, decrease or even no changes in this system preeclamptic compared to normal pregnant women. Efforts have been carried out in order to define hemostatic parameters with diagnostic and prognostic value, considering that PE diagnosis is essentially based on clinical data and often hard to be established. In this way, platelet count, thrombomodulin, thrombin-antithrombin complex and plasminogen activator inhibitor type 2 measurement were performed as helpful parameters for PE diagnosis. However, it remains to be established the usefulness of all these laboratory markers. Recently, it was suggested an association between the occurence of pregnancy complication, including PE, and the presence of genetic mutations which favors the development of thromboembolic events. It has been proposed a hemostatic the assessment in preeclamptic women, even if there was no previous thromboembolic episody, by using thrombotic markers as an useful parameter for planning future pregnancies, once PE recurrence is about 20%.