Resumo Uma dupla cicatriz, a das experiências traumáticas da ditadura brasileira e a da difícil vocalização feminina dessa memória contra o esquecimento, atravessa os dois romances de Ana Maria Machado, Tropical sol da liberdade (1988) e Canteiros de Saturno (1991). Pioneiros entre as produções literárias escritas por mulheres e tendo como contexto os anos de chumbo e a época da redemocratização, essas obras permitem confirmar o papel antecipador da literatura na restituição e reconstrução desse passado brasileiro e, ao mesmo tempo, desmontar e desafiar a tradição androcêntrica da escrita da história. Em particular, os dois textos, soldando a esfera privada e o espaço público, e encenando ou construindo uma reflexão metaliterária, colocam as duas dimensões da questão de “gênero”: a reflexão sobre a busca da forma da escrita (gênero) para contar e construir uma leitura alternativa da história e uma memória feminina nas suas especificidades de pontos de vista e vivências (gênero).
Abstract A double scar, the traumatic experiences of the Brazilian dictatorship and the difficult female vocalization of this memory against oblivion, runs through Ana Maria Machado’s two novels, Tropical Sol da Liberdade (1988) and Canteiros de Saturno (1991). As pioneering texts among literary productions written by women, and having as context the lead years and the period of re-democratization, they allow us to affirm the anticipatory role of literature in the restitution and reconstruction of this Brazilian past. At the same time, they also allow us to dismantle and challenge the androcentric tradition of history writing. In particular, the two texts, welding the private with the public and staging or constructing a meta-literary reflection, emphasize the two dimensions of the issue: the search for a form of writing (genre) to tell and build an alternative reading of history and a feminine memory in its specificities of viewpoints and experiences (gender).
Resumen Una doble cicatriz, las experiencias traumáticas de la dictadura brasileña y la difícil vocalización femenina de esta memoria contra el olvido, recorren las dos novelas de Ana Maria Machado, Tropical Sol da Liberdade (1988) y Canteiros de Saturno (1991). Los textos, pioneros entre producciones literarias escritas por mujeres, y que tienen como contexto los años de la represión y la época de la redemocratización, permiten afirmar el papel anticipatorio de la literatura en la restitución y reconstrucción de este pasado brasileño y, al mismo tiempo, desmantelar y desafiar la tradición androcéntrica de escritura de la historia. En particular, los dos textos, que unen la espera privada y el espacio público y organizan o construyen una reflexión meta-literaria, plantean las dos dimensiones de la cuestión del “género”: la reflexión sobre la búsqueda de la forma de escribir (género) para contar y construir una lectura alternativa de la historia y una memoria femenina en sus especificidades de puntos de vista y experiencias (género).