RESUMO Embora estudos apontem, cada vez mais, a ampliação de índices da denominada juventude “nem, nem, nem” (nem estuda, nem trabalha, nem pretende voltar a trabalhar e estudar) e a intensificação de sua inserção em facções e rotas do tráfico na paisagem das metrópoles, paradoxalmente observa-se um incremento de experiências juvenis criativas que emergem da vivência das ruas e da formação de coletivos de periferia. Práticas culturais de origem diversa atravessam lugares materiais e digitais, mobilizando entre jovens múltiplos fazeres: organização de saraus, produções audiovisuais realizadas por meio de celulares, formação de coletivos de arte, inserção em grupos de teatros de rua, dentre outros. Contrariando caminhos normativos mediados pela via institucional escola/trabalho e sob um efeito de “táticas desviacionistas” (De Certeau), essas juventudes parecem condensar signos inventariados pelas mídias com repertórios concernentes a estéticas, jeitos e linguagens pactuados nas culturas de rua. Este artigo pretende, assim, discorrer acerca da experiência exemplar de produção do seriado La Casa d’uz Vetin, produzido por influenciadores digitais da periferia, destacando novos diagramas de criatividade e práticas emblemáticas das juventudes contemporâneas.
ABSTRACT Although studies increasingly show the growth of the so-called “neither, nor, nor” youths (who neither study, nor work, nor intend to go back to work and study), and their greater insertion in drug trafficking factions and routes in the metropolitan landscape, there is, paradoxically, a rise in creative youth experiences emerging from street life itself and from the formation of collectives in the periphery of cities. Cultural practices of different origins crisscross the material and digital spheres, mobilizing youth to multiple actions, such as organizing soirees, making videos and music on smartphones, creating art collectives, and participating in street theater groups, among others. Going against the grain of normative paths mediated by the institutional route of school/work and under the influence of “deviation tactics” (De Certeau, 1994), these youths seem to condense signs inventoried by the media with repertoires concerning the agreed-upon aesthetics, manners and languages of street cultures. This article intends to discuss the exemplary production experience of the series La Casa Dúz Vetin, produced by digital influencers from the urban periphery, highlighting new diagrams of creativity and emblematic practices of contemporary youth.