Resumo Na agricultura, mecanização e robotização são dois termos geralmente associados a processos usados para caracterizar a “revolução verde”; industrialização, redução dos custos e “racionalização”, aumento da produção e modernização. Neste artigo, proponho uma reflexão, a partir de uma etnografia realizada junto a criadores de vacas leiteiras na França (Haute-Savoie), sobre as relações apontadas nessa narrativa de cunho evolucionista. A partir da transformação técnica constituida pela implantação de um robô de ordenha, tentarei mostrar que se trata, antes de tudo, de uma reconfiguração relacional entre homem/ vacas. Analisarei as praticas que são implicadas pelo robô de ordenha, tanto para os homens quanto as vacas, a partir de noção de objetos técnicos e meio associado. Configurando assim uma transformação do sistema técnico ligado ao processo de domesticação. Meu objetivo é demonstrar que, a partir de modificações nos ritmos, nos gestos e na interação com os animais, existe uma redefinição da maneira de fazer as vacas produzirem leite, e que isso não configura necessariamente uma virtualização, uma objetificação ou um distanciamento em relação aos animais, ou seja, uma industrialização.
Abstract In agriculture, mechanization and robotization are two terms that are generally associated with processes characteristic of a “Green Revolution”: industrialization, cost reduction and “rationalization”, increased output and modernization. In this article, I reflect on the relations implied in this evolutionary-style narrative through an ethnography of cattle breeders and dairy cows in Haute-Savoie, France. I will show that the technical transformation engendered by the implementation of a milking robot is, first and foremost, a reconfiguration of the relationships between humans and cows. I will analyse the effects of the milking robot for both humans and cows through the notion of ‘technical objects’ and their associated environment, which configure a transformation in the technical system linked to the process of domestication. I show that modifications in the rhythm, gestures and interactions with the animals also redefine how cows are made to produce milk, and that, furthermore, this does not necessarily constitute a virtualization, an objectification or distancing in relation to the animals. In brief, it lacks many of the defining features of ‘industrialization’.