Resumo Entre 2015 e 2017 ocorreu, na Câmara dos Deputados do Congresso Nacional, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) nas suas atribuições de demarcação de terras indígenas e quilombolas, respectivamente. Essa CPI foi estabelecida pela bancada ruralista, grupo que representa os interesses do agronegócio dentro do Congresso brasileiro. Um dos focos da CPI foi discutir o papel da antropologia nos processos de demarcação de terras indígenas e quilombolas, questionando não apenas a atuação de antropólogos/as, mas também a própria área do conhecimento. Por meio de etnografia de documentos (notas taquigráficas das reuniões e relatórios apresentados) e por observação direta, a pesquisa que culminou nesse artigo buscou refletir sobre a prática antropológica relacionada às políticas públicas de redistribuição de terras a povos indígenas e comunidades quilombolas e seus atritos com os interesses do agronegócio. A centralidade da pauta fundiária e do modelo de desenvolvimento territorial defendido pelo agronegócio colidem com as políticas públicas de democratização do acesso à terra. A CPI da Funai e do Incra revela mais uma tentativa articulada do agronegócio, por meio da bancada ruralista, de estabelecer novos marcos a essas políticas públicas, e, por isso, colocou-se a antropologia no debate. 201 ocorreu (CPI (Funai (Incra respectivamente ruralista brasileiro antropólogosas antropólogos antropólogos/as conhecimento notas apresentados direta terra isso colocouse colocou se debate 20 2
Abstract Between 2015 and 2017, a Parliamentary Commission of Inquiry (PCI) took place in the Câmara dos Deputados (Brazil’s lower house) of the Brazilian National Congress, which investigated the formerly named National Indian Foundation (FUNAI) and the National Institute for Colonisation and Agrarian Reform (INCRA) in their attributions of demarcating lands, Indigenous and Quilombola lands, respectively. This PCI was established by the Ruralista caucus, a group that represents the interests of agribusiness inside Congress. One of the focuses of the PCI was to discuss the role of anthropology in the demarcation processes of Indigenous and Quilombola lands, questioning not only the work of anthropologists, but the field of knowledge itself. Through an ethnography of documents (shorthand notes of the meetings and reports presented) and by direct observation, the research that culminated in this article sought to reflect on the anthropological practice related to public policies for the redistribution of land to Indigenous peoples and Quilombola communities and their friction with agribusiness interests. The centrality of the agrarian agenda and the model of territorial development defended by agribusiness clashes with public policies for the democratisation of access to land. The FUNAI-INCRA PCI reveals yet another articulated attempt by agribusiness to establish new benchmarks for these public policies, through the Ruralista caucus, and for this reason anthropology was included in the debate. 201 2017 (PCI Brazils Brazil s house Congress FUNAI (FUNAI INCRA (INCRA lands respectively caucus anthropologists itself shorthand presented observation FUNAIINCRA debate 20 2