RESUMO Objetivo: Comparar os resultados da espirometria de pacientes tratados e curados para tuberculose pulmonar (TBP) com e sem doença pulmonar prévia e analisar os fatores de risco relacionados à gravidade funcional. Métodos: Estudo transversal, multicêntrico, em quatro centros de referência no Brasil. Os pacientes foram classificados em dois grupos: grupo com doença pulmonar prévia ou história de tabagismo (grupo DPT+) e grupo sem doença pulmonar prévia e sem tabagismo (grupo DPT−). Os pacientes realizaram espirometria (pelo menos seis meses após a cura), e foram coletados dados sociodemográficos e clínicos. Resultados: Foram incluídos 378 pacientes: 174 (46,1%) no grupo DPT+ e 204 (53,9%) no grupo DPT−. Na amostra total, 238 pacientes (62,7%) apresentaram alguma alteração espirométrica. No grupo DPT+ houve predominância de distúrbio ventilatório obstrutivo (em 33,3%), e distúrbio ventilatório restritivo predominou no grupo DPT− (em 24,7%). Quando comparados com o grupo DPT+, os pacientes do grupo DPT− apresentaram menos frequentemente alteração radiológica (p < 0,01) e funcional (p < 0,05). Porém, dos 140 (79,1%) do grupo DPT− com radiografia de tórax normal ou minimamente alterada, 76 (54%) apresentaram alguma alteração funcional (p < 0,01). Os fatores de risco relacionados com a gravidade funcional no grupo DPT− foram grau de dispneia (p = 0,03) e alterações radiológicas moderadas ou acentuadas. Conclusões: O comprometimento da função pulmonar é frequente após o tratamento da TBP independentemente do histórico de tabagismo ou doença pulmonar prévia. A espirometria deve ser sugerida para esses pacientes que evoluem com grau moderado/grave de dispneia e/ou alteração radiológica relevante após o tratamento da TBP.
ABSTRACT Objective: To compare patients with and without previous lung disease, in terms of the spirometry results after they had been treated for pulmonary tuberculosis (PTB) and cured, as well as to analyze risk factors related to functional severity. Methods: This was a cross-sectional, multicenter study conducted at four referral centers in Brazil. Patients were divided into two groups: those with a history of lung disease or smoking (LDS+ group); and those with no such history (LDS− group). Patients underwent spirometry (at least six months after being cured). Sociodemographic and clinical data were collected. Results: A total of 378 patients were included: 174 (46.1%) in the LDS+ group and 204 (53.9%) in the LDS− group. In the sample as a whole, 238 patients (62.7%) had spirometric changes. In the LDS+ group, there was a predominance of obstructive lung disease (in 33.3%), whereas restrictive lung disease predominated in the LDS− group (in 24.7%). Radiological changes were less common in the LDS− group than in the LDS+ group (p < 0.01), as were functional changes (p < 0.05). However, of the 140 (79.1%) LDS− group patients with a normal or minimally altered chest X-ray, 76 (54%) had functional changes (p < 0.01). The risk factors associated with functional severity in the LDS− group were degree of dyspnea (p = 0.03) and moderate or severe radiological changes (p = 0.01). Conclusions: Impaired pulmonary function is common after treatment for PTB, regardless of the history of lung disease or smoking. Spirometry should be suggested for patients who develop moderate/severe dyspnea or relevant radiological changes after treatment for PTB.