A doença de Alzheimer (DA) está associada a deterioração das habilidades intelectuais e, com frequência, do comportamento do paciente. O paciente, porém, tem percepção limitada da gravidade e qualidade dessas alterações. Nós desenhamos este estudo para investigar a concordância entre pacientes e cuidadores na avaliação de dificuldades cognitivas e alterações do comportamento associadas à DA. Trinta pacientes com diagnóstico de DA (DSM-IV) atendidos consecutivamente no ambulatório de saúde mental da Santa Casa de São Paulo foram recrutados para inclusão no estudo. Um cuidador foi também selecionado para cada paciente. A concordância entre pacientes e cuidadores quanto às dificuldades cognitivas e alterações comportamentais foi avaliada através da versão ampliada do questionário para demência-anosognosia (QD). As habilidades cognitivas de pacientes e cuidadores foi avaliada através do mini exame do estado mental (MMSE). A idade média dos pacientes e cuidadores era 71,38 (IC=68,23 a 74,53) e 52,48 anos (IC=47,11 a 57,86) respectivamente. Sessenta por cento e 73,3% dos pacientes e cuidadores eram do sexo feminino. O escore médio dos pacientes no MMSE foi 14,93 (IC=12,68 a 17,18). A concordância entre pacientes e cuidadores para os escores de itens individuais do QD, de acordo com o índice Kappa ponderado, variou de 0 a 0,67, embora valores menores do que 0,40 fossem observados para 39 dos 42 itens. O escore total dos pacientes na seção do QD que avalia habilidades cognitivas (QD-A) foi significativamente menor do que para os cuidadores (t-pareado = -4,07, p<0,001). O mesmo padrão de resposta foi observado na seção do questionário que avalia comportamento (QD-B).(t-pareado= -2,27, p=0,032). A correlação de Spearman entre os escores do QD-A e MMSE de acordo com o paciente e cuidador foi -0,39 e -0,57 respectivamente. Anosognosia cognitiva (diferença entre o QD-A de cuidadores e pacientes) não se correlacionou de forma significativa com o escore do MMSE (rho= -0,14) ou presença de depressão entre os pacientes (t= -0,40, p= 0,698). Estes resultados indicam que os pacientes têm percepção limitada dos déficits cognitivos e alterações de comportamento associadas à DA. Além disso, eles sugerem que a baixa auto-crítica dos pacientes não é influenciada de forma importante pela gravidade do quadro demencial ou presença de sintomas depressivos.
Alzheimer's disease (AD) is associated with cognitive decline and, often, the development of behavioural abnormalities. However, patients may have limited insight into the severity and extent of their impairments. This study was designed to investigate agreement between patients and carers on the assessment of cognitive and behavioural symptoms typically associated with AD. Thirty consecutive outpatients meeting criteria for the diagnosis of AD according to DSM-IV and their respective carers were invited to participate in this study. An enlarged version of the questionnaire for dementia-anosognosia (QD) was used to assess cognitive and behavioural symptoms according to patients and carers. Cognitive impairment was further assessed with the mini-mental state examination (MMSE). The mean age of patients and carers was 71.38 (CI=68.23 to 74.53) and 52.48 (CI=47.11 to 57.86) respectively. Sixty and 73.3% of patients and carers were women. The mean MMSE score for patients was 14.93 (CI=12.68 to 17.18). Agreement between patients and carers for all QD items was assessed using weighted Kappa - rates were low and ranged from 0 to 0.67. Only 3 of the 42 QD items were associated with Kappa values greater than 0.40. The overall score for questions assessing cognitive abilities (QD-A) was significantly lower according to the evaluation of patients than that of carers (paired t-test = -4.07, p<0.001). The same pattern was observed for questions assessing behaviour (QD-B)(paired t-test= -2.27, p=0.032). The Spearman correlation between QD-A and MMSE scores was -0.39 and -0.57 according patients and carers respectively. The association between cognitive anosognosia (difference between QD-A according to carers and patients) and MMSE scores was poor (rho= -0.14). In addition, cognitive anosognosia scores of patients with and without significant depressive symptoms was similar (t= -0.40, p=0.698). These results suggest that AD patients have limited insight into the severity and extent of their cognitive and behavioural problems. In addition, our data shows that this lack of awareness is not influenced by the severity of cognitive impairment or the presence of depressive symptoms.