CONTEXTO E OBJETIVO: A perda espontânea de três ou mais gestações subseqüentes é chamada de aborto espontâneo recorrente (AER). É relacionado com alterações genéticas, anatômicas, hormonais, infecciosas, imunológicas e outras. Muitos casos de AER continuam como de causa desconhecida. Novos fatores ou associações podem influenciar o resultado gestacional. O objetivo do estudo foi identificar as possíveis causas do AER, isoladas ou associadas, que poderiam predizer o prognóstico gestacional em mulheres submetidas a um protocolo de investigação e tratamento. TIPO DE ESTUDO E LOCAL: Estudo de caso-controle, no ambulatório de Perdas Gestacionais do Centro de Atenção Integral a Saúde da Mulher da Universidade Estadual de Campinas. MÉTODOS: Foram revisados 246 prontuários médicos de mulheres com três ou mais perdas espontâneas sucessivas atendidas no Ambulatório de Perdas Gestacionais do CAISM/Unicamp entre 1994 e 2003. Foram avaliados dados relativos à idade, antecedentes obstétricos, possíveis etiologias para a recorrência do aborto, tratamentos realizados e resultados gestacionais. A análise estatística envolveu razão de chances (RC), análise por regressão logística e arvores de decisão. RESULTADOS: 229 mulheres foram incluídas no estudo. O fator imunológico, principalmente o aloimune, foi o mais encontrado (93,9%). Mulheres com fator aloimune isolado obtiveram melhores resultados gestacionais (77.7% de partos) do que aquelas com a associação de outros fatores. A presença do fator autoimune aumentou a chance de aborto (RC 4.30 95% intervalo de confiança, IC 1.36 - 13.63). Não foi encontrada associação entre o número de abortos prévios ao tratamento e o resultado gestacional. Mulheres com 40 anos ou mais apresentaram a mais alta taxa de aborto espontâneo (OR 5.83 95% CI 1.12-30.40). CONCLUSÃO: Idade acima de 40 anos, a presença de fatores imunológicos e a associação de dois ou mais fatores conferiram o pior prognóstico gestacional às mulheres avaliadas.
CONTEXT AND OBJECTIVE: Recurrent spontaneous abortion (RSA) is defined as three or more consecutive pregnancy losses before 20 weeks and is associated with several etiological factors related to genetics, anatomy, hormones, infections and immunology, for example. Many cases of RSA remain unclear. New factors or their associations may influence gestational results. The aim was to identify possible single or associated causes of RSA that could predict gestational prognosis for women undergoing investigation and treatment. DESIGN AND SETTING: Case-control study, at the Recurrent Abortion Outpatient Clinic, Department of Obstetrics and Gynecology School of Medicine, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). METHODS: Two hundred and forty-six medical records of women with RSA seen at the Recurrent Abortion Outpatient Clinic, Department of Obstetrics and Gynecology School of Medicine, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), between 1994 and 2003, were evaluated. Data on age, obstetric history, possible etiological factors, treatment and pregnancy outcomes were evaluated. Statistical analysis was performed using odds ratios (OR), logistic regression analysis and decision trees. RESULTS: Two hundred and twenty-nine women were included in the study. The most frequently found etiological factors were immunological, particularly alloimmune factors (93.9%). Women with a single alloimmune factor had better gestational results (77.7% deliveries) than those with other associated factors. Autoimmune factors were associated with a higher abortion rate (OR: 4.30; 95% confidence interval, CI: 1.36-13.63). No association was found between the number of abortions prior to treatment and pregnancy results. Women aged 40 or over presented the highest rate of spontaneous abortion (OR: 5.83; 95% CI: 1.12-30.40). CONCLUSION: Age over 40 years old, immunological factors and two or more concomitant factors were associated with poor gestational outcomes among the women studied.