Resumo O ordenamento espacial das periferias, através do loteamento, não despertou tanto interesse entre os antropólogos. Com base em pesquisa sobre documentos, principalmente planos urbanísticos, e editais de leis, pretendemos fazer uma “genealogia” (Foucault) do loteamento, analisando as várias racionalidades, técnicas e políticas, que contribuíram para esta forma de morar. Argumentamos que o loteamento deve muito à “razão gráfica” (Goody), ao tipo de operações que o uso de “artefatos gráficos” (Hull) possibilita. Defendemos também que esta tecnologia responde a problemas específicos: no período colonial, regulamentava-se a abertura de ruas para defender os espaços públicos, enquanto, no final do século dezoito, o problema já era de reformar a malha viária. A codificação do loteamento tal como conhecemos só ocorreu no início do século vinte, em decorrência de novas problemáticas acerca das necessidades coletivas da população urbana. Longe de constituir uma cidade ilegal, a periferia aparece assim como um laboratório do planejamento urbano.
Abstract The spatial ordering of Rio de Janeiro’s poor suburbs, through subdivision (loteamento), did not raise such interest among anthropologists. Based on documents, mostly urban plans, and legislation, we intend to make a “genealogy” (Foucault) of the subdivision, giving attention to technical and political rationalities. We argue that the subdivision owes much to the “graphic reason” (Goody), to the kind of operations that the use of “graphic artifacts” allows. Moreover, this technology responds to specific problems: during colonial times, government regulated street opening in order to defend public spaces. At the end of the eighteenth century, the problem was how to reform the road network. Current subdivision regulations come from the early twentieth century, when new issues about collective needs aroused. Far from being an illegal city, poor suburbs appear as a laboratory for urban planning.
Résumé L’agencement spatial des périphéries urbaines, au travers du « lotissement » (loteamento), n’a pas suscité beaucoup d’intérêt de la part des anthropologues. Prenant appui sur les documents d’urbanisme impliqués dans les opérations de lotissement, cet article prétend faire la « généalogie » (Foucault) de cette forme d’habitat à Rio de Janeiro en analysant les différentes rationalités techniques et politiques qui la traversent. En particulier, il défend que le lotissement doit beaucoup à la « raison graphique » (Goody), au genre d’opérations que l’utilisation « d’artefacts graphiques » (Hull) rend possible. Il soutient également que la technologie du lotissement est née en réponse à des problèmes spécifiques: à l’époque coloniale, il s’agissait de réglementer la création de voirie pour préserver l’espace public de la rue, alors qu’à la fin du dix-huitième siècle, l’enjeu était plutôt de réformer le réseau des voies de circulation. La codification des opérations de lotissement telles que nous les connaissons aujourd’hui ne survint qu’au début du siècle précédent en accord avec les nouvelles préoccupations de l’époque concernant les nécessités collectives de la population urbaine. Loin des stéréotypes sur la « ville informelle » (cidade ilegal), la périphérie se révèle un véritable laboratoire de l’aménagement urbain (planejamento urbano).