Este trabalho analisa a cobertura midiática do assassinato de Evandro João da Silva, um dos "líderes" do Grupo Cultural AfroReggae (GCAR), ocorrido no Centro do Rio de Janeiro, em outubro de 2009, em consequência de reação a um assalto. A análise baseia-se na interpretação de que as propostas de intervenção social do GCAR constituem um "projeto moral" ancorado na noção de responsabilidade para com o outro. Este projeto seria desenvolvido, no plano discursivo, através de pequenos "contos morais", que têm como protagonista o sobrevivente, cuja marca emocional é a esperança. Porém, a morte de Evandro insere um dado novo nestes contos: seu protagonista é um mártir, associado não à esperança, mas à utopia. Tomamos este escândalo de opinião pública como um drama social, um momento em que a "sociedade" (neste caso a carioca) discute a si mesma, ou, dito de outro modo, como um ritual, nos termos de Geertz (1978), uma "história que a sociedade conta sobre ela mesma para si mesma". Qual seria então a "moral" desta história que coloca o GCAR diante de um desafio: lidar com a emergência de um mártir em suas fileiras de sobreviventes? O material analisado é a cobertura do evento no jornal O Globo, no período de 19 a 24 de outubro de 2009. O foco da análise está nas representações da instituição policial presentes nas falas dos diversos atores sociais participantes do debate: autoridades, especialistas, membros do grupo e leitores do jornal.
This paper analyzes media discourses on the killing of Evandro João da Silva. Evandro was a leader of Cultural Group AfroReggae and was killed due to reacting to a robbery in Rio de Janeiro, October 2009. The analysis is based upon the interpretation of the Groups' set of strategies for social intervention as a "moral project". This project would have as its main focus the notion of responsibility towards the other. Its discursive development would be done through "moral tales", which would have as its protagonist the survivor, whose emotional mark would be hope. The death of Evandro, however, adds a new character to these tales: the martyr, who would be associated to utopia, rather than to hope. We examine this public opinion scandal as a social drama, a moment in which "society" (in this case Rio de Janeiros' society) discusses itself, or, referring to Geertz (1978), as a ritual, "a story a society tells to itself about itself". This story poses a challenge to GCAR: how to deal with the emergence of a "martyr" in the middle of their "survivors"? Data analyzed is the media coverage of this event in the newspaper O Globo, from October 19th to October 24th, 2009. The analysis focus on the representations of police institutions to be found in the interventions made by social actors who take part in this debate: public authorities, specialists, members of the Group and the newspaper' readers.