CONTEXTO: Pela complexidade do atendimento nas unidades de terapia intensiva e a própria situação dos pacientes, o prognóstico correto é de fundamental importância. Os índices prognósticos surgiram para auxiliar na avaliação do prognóstico destes pacientes. OBJETIVO: Avaliar o APACHE II (Acute Physiology and Cronic Health Evaluation II), analisando a estratificação dos pacientes quanto à letalidade, comparar a gravidade e condições de saída dos pacientes clínicos, pós-cirurgias eletivas, e pós-cirurgias de urgências; avaliar a capacidade do APACHE II de prever a letalidade hospitalar; e comparar a letalidade hospitalar observada com a esperada. TIPO DE ESTUDO: de acurácia, retrospectivo. LOCAL: Unidade de terapia intensiva da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (hospital terciário de ensino universitário). PARTICIPANTES: 521 pacientes consecutivamente admitidos entre julho de 1998 a junho de 1999. VARIÁVEIS ESTUDADAS: Escore APACHE II, mortalidade intra-hospitalar. A acurácia do APACHE II foi avaliada pela curva receiver operating characteristic, pela decisão matricial e pela regressão linear. RESULTADOS: A idade média foi 50 ± 19 anos e a média do APACHE II foi de 16,7 ± 7,3. Entre os internados, 166 pacientes (32%) tinham doenças clínicas, 173 (33%) sofreram cirurgias eletivas e 182 (35%), cirurgias de urgências, sendo esta proporção estatisticamente similar. A média do APACHE II dos pacientes clínicos foi 18,5 ± 7,8, dos pacientes pós-cirurgias de urgências, 18,6 ± 6,5 e dos pacientes pós-cirurgias eletivas foi 13,0 ± 6,3. Quanto maior o APACHE II, maior a letalidade para todos os pacientes e para cada grupo. A letalidade prevista foi 25,6%, enquanto a observada foi 35,5%, com razão de mortalidade padronizada de 1,39. A análise da curva receiver operating characteristic mostrou boa discriminação do índice (área sob a curva = 0,80). Com a matriz de decisão 2 x 2, 72,2% dos pacientes foram corretamente classificados, sendo a sensibilidade 35,1% e a especificidade 92,6% (risco de 0,5). Quando a letalidade observada foi relacionada com a prevista, a análise de regressão linear mostrou r² de 0,92. CONCLUSÕES: O APACHE II foi útil para estratificar os pacientes pela letalidade. A gravidade e a letalidade dos pacientes clínicos foram maiores que dos pacientes cirúrgicos. A capacidade do sistema APACHE II de estratificação foi boa, mas insuficiente para predizer com exatidão a letalidade destes pacientes. A letalidade observada foi maior que a prevista pelo APACHE II.
CONTEXT: The high-complexity features of intensive care unit services and the clinical situation of patients themselves render correct prognosis fundamentally important not only for patients, their families and physicians, but also for hospital administrators, fund-providers and controllers. Prognostic indices have been developed for estimating hospital mortality rates for hospitalized patients, based on demographic, physiological and clinical data. OBJECTIVE: The APACHE II system was applied within an intensive care unit to evaluate its ability to predict patient outcome; to compare illness severity with outcomes for clinical and surgical patients; and to compare the recorded result with the predicted death rate. DESIGN: Diagnostic test. SETTING: Clinical and surgical intensive care unit in a tertiary-care teaching hospital. PARTICIPANTS: The study involved 521 consecutive patients admitted to the intensive care unit from July 1998 to June 1999. MAIN MEASUREMENTS: APACHE II score, in-hospital mortality, receiver operating characteristic curve, decision matrices and linear regression analysis. RESULTS: The patients' mean age was 50 ± 19 years and the APACHE II score was 16.7 ± 7.3. There were 166 clinical patients (32%), 173 (33%) post-elective surgery patients (33%), and 182 post-emergency surgery patients (35%), thus producing statistically similar proportions. The APACHE II scores for clinical patients (18.5 ± 7.8) were similar to those for non-elective surgery patients (18.6 ± 6.5) and both were greater than for elective surgery patients (13.0 ± 6.3) (p < 0.05). The higher this score was, the higher the mortality rate was (p < 0.05). The predicted death rate was 25.6% and the recorded death rate was 35.5%. Through the use of receiver operating curve analysis, good discrimination was found (area under the curve = 0.80). From the 2 x 2 decision matrix, 72.2% of patients were correctly classified (sensitivity = 35.1%; specificity = 92.6%). Linear regression analysis was equivalent to r² = 0.92. CONCLUSIONS: APACHE II was useful for stratifying these patients. The illness severity and death rate among clinical patients were higher than those recorded for surgical patients. Despite the stratification ability of the APACHE II system, it lacked accuracy in predicting death rates. The recorded death rate was higher than the predicted rate.