Neste artigo, argumentamos que alguns "discípulos" de John Rawls, refletindo sobre princípios de justiça internacional, apresentam uma posição mais consistente com o espírito da obra Uma teoria da Justiça do que seu próprio autor. Autores como Charles Beitz e Thomas Pogge defendem mecanismos de justiça distributiva internacional mais condizentes com o cosmopolitismo do "princípio da diferença" da obra Uma teoria da Justiça do que qualquer outro esforço que Rawls faz nesse sentido em sua obra posterior, mais voltada para as questões internacionais: O Direito dos Povos. Mais especificamente, sustentamos que Pogge e Beitz desenvolveram argumentos (a relativização do princípio da soberania absoluta dos Estados e a transferência internacional de recursos naturais) mais sólidos para transportar o "princípio da diferença" para o cenário internacional do que a proposta rawlsiana de "dever de assistência", encontrada em O Direito dos Povos. Assim, demonstramos que os discípulos são mais fiéis ao espírito cosmopolita para o plano internacional do que Rawls por conta de três razões: a crença desses autores em uma comunidade global de concidadãos dentro de uma estrutura institucional internacional; a idéia segundo a qual a produção global de recursos coletivos deve ser redistribuída a partir de um princípio distributivo denso; e, por fim, uma redistribuição que somente pode ser justa se exigir reformas morais das instituições internacionais (Fundo Monetário Internacional, Organização Mundial do Comércio, Banco Mundial, princípio da soberania etc.) no sentido de melhorar as condições de vida dos indivíduos mais pobres de todos os povos do sistema. Este artigo pretende, portanto, discutir o legado mais progressista de autores que, ao inspirarem-se em Rawls, desenvolveram argumentos mais condizentes com o espírito cosmopolita para o plano internacional.
In this article, we make the argument that some of John Rawl's "disciples", reflecting on the principles of international justice, have taken a position that is more consistent with the spirit of his A Theory of Justice than the author himself has. Scholars such as Charles Beitz and Thomas Pogge defend mechanisms of international distributive justice that seem to be more in line with the cosmopolitanism of the "principle of difference" that can be found within A Theory of Justice than are other efforts that Rawls himself made in his later work, more oriented toward international issues, The Law of Peoples. More specifically, we maintain that Pogge and Beitz developed more solid arguments (the relativization of the principle of the absolute sovereignty of States and international transfer of natural resources) for transporting the "principle of difference" into the international arena than what can be found within Rawls' proposal on "the duty of aid" in The Law of Peoples. We thereby demonstrate that Rawls' disciples are more faithful to the cosmopolitan spirit at the international level than he himself was, for three reasons: their belief in a world community of fellow citizens within an international institutional structure; the idea that the global production of collective resources should be redistributed through a principle of dense distribution and, finally, the notion that redistribution that can only be just insofar as it demands the moral reform of international institutions (International Monetary Fund, World Trade Organization, World Bank, principle of sovereignty etc.) in such a way as to improve the life conditions of world's poorest peoples. Thus, this article discusses the most progressive legacy of authors whom, in taking their inspiration from Rawls, developed arguments that were more adequate than his own for nourishing a cosmopolitan spirit within the international arena.
Dans cet article, nous soutenons que quelques "disciples" de John Rawls, en pensant aux principes de justice internationale, présentent une position plus cohérente avec l'esprit de l'œuvre Une Théorie de la Justice, que son auteur lui-même. Des auteurs comme Charles Beitz et Thomas Pogge, défendent des mécanismes de justice distributive internationale plus cohérents avec le cosmopolitisme du "principe de la différence", de l'œuvre Une Théorie de la Justice que n'importe quel autre effort que Rawls fait dans ce sens, dans son œuvre postérieur, plus centré sur les questions internationales : Les Droits des Peuples. Plus spécifiquement, nous soutenons que Pogge et Beitz ont développé des arguments (la relativisation du principe de la souveraineté absolue des Etats et le transfert international de ressources naturelles), plus solides pour transporter le "principe de la différence" au scénario international, que la proposition "rawlsienne" de "devoir d'assistance", trouvée dans Le Droit des Peuples. Ainsi, nous démontrons que les disciples sont plus fidèles à l'esprit cosmopolite pour le plan international que Rawls, en raison de trois choses : la croyance de ces auteurs en une communauté globale de citoyens dans une structure institutionnelle internationale ; l'idée selon laquelle, la production globale de ressources collectives doit être redistribuée à partir d'un principe distributif dense ; et pour finir, une redistribution qui peut être juste seulement si elle exige des réformes morales des institutions internationales (Fonds Monétaire International, Organisation Mondiale du Commerce, Banque Mondiale, principe de la souveraineté etc.); dans le sens d'améliorer les conditions de vie des individus les plus pauvres de tous les peuples du système. Cet article a l'intention donc, de discuter l'héritage le plus progressif d'auteurs que, en s'inspirant en Rawls, ont développé des arguments plus cohérents avec l'esprit cosmopolite pour le plan international.