OBJETIVO: Analisar a efetividade da estimulabilidade como prova complementar ao diagnóstico do transtorno fonológico (TF) e descrever o desempenho de crianças com ausência de sons no inventário fonético quanto a sons ausentes estimuláveis, gravidade, gênero, idade e ocorrência de diferentes processos fonológicos. MÉTODOS: Participaram 130 crianças de ambos os gêneros, entre 5 anos e 10 anos e 10 meses de idade, distribuídas em dois grupos: Grupo Pesquisa (GP), composto por 55 crianças com TF; e Grupo Controle (GC), composto por 75 crianças sem alterações fonoaudiológicas. A partir da aplicação da prova de Fonologia, foi calculada a gravidade do TF por meio do Percentual de Consoantes Corretas-Revisada (PCC-R) e verificado o inventário fonético. Para cada som ausente do inventário foi aplicada a estimulabilidade em imitação de palavras. O GP foi dividido em GP1 (27 crianças que apresentaram sons ausentes) e GP2 (28 crianças com inventário completo). RESULTADOS: Nenhuma criança do GC apresentou som ausente no inventário e no GP1 49% apresentaram sons ausentes. Houve ausência da maioria dos sons da língua. As médias do PCC-R foram menores no GP1, indicando maior gravidade. No GP1, 22 crianças foram estimuláveis e cinco não o foram a qualquer som. Houve associação entre os processos fonológicos mais ocorrentes no TF e a necessidade de avaliação da estimulabilidade, o que indica que a dificuldade em produzir os sons ausentes reflete dificuldade de representação fonológica. A estimulabilidade sofre influência da idade, mas não do gênero. CONCLUSÃO: A prova de estimulabilidade é efetiva para identificar dentre crianças com sons ausentes do inventário, aquelas que são estimuláveis. Tais crianças com TF, que apresentam sons ausentes do inventário, são mais graves uma vez que os valores do PCC-R são mais baixos. As crianças com sons ausentes são estimuláveis em sua maioria, e podem não ser estimuláveis para sons com estrutura silábica ou gesto articulatório complexos. A dificuldade em produzir os sons ausentes reflete dificuldade de representação fonológica. A produção motora da fala demonstrou receber influência da maturação de forma semelhante entre meninos e meninas.
PURPOSE: To analyze the effectiveness of stimulability as a complementary task to the diagnosis of speech sound disorders (SSD), and to describe the performance of children with absent sounds from the phonetic inventory according to stimulable absent sounds, severity, gender, age, and occurrence of different phonological processes. METHODS: Participants were 130 male and female children with ages between 5 years and 10 years and 10 months, divided into two groups: Research Group (RG), comprising 55 children with SSD; and Control Group (CG), composed of 75 children with no speech and language disorders. Based on participants' performance on the Phonology test, the severity of the disorder was calculated through the Percentage of Consonants Correct - Revised (PCC-R), and the phonetic inventory was verified. The stimulability test was applied to each absent sound from the phonetic inventory, based on the imitation of single words. The RG was subdivided into RG1 (27 children who presented absent sounds) and RG2 (28 children with complete inventory). RESULTS: None of the CG children presented absent sounds in the phonetic inventory, while 49% of the RG1 subjects presented absent sounds. There was absence of most language sounds. PCC-R means were lower for RG1, indicating higher severity. In the RG1, 22 children were stimulable, while five were not stimulable to any absent sound. There was association between the most occurring phonological processes and the need for stimulability assessment, indicating that the difficulty to produce absent sounds reflects difficulty with phonological representation. Stimulability is influenced by age, but not by gender. CONCLUSION: The stimulability test is effective to identify stimulable children among those who present absent sounds from their phonetic inventory. Children with SSD and absent sounds have lower PCC-R, and therefore present more severe disorder. Most of the children with absent sounds are stimulable, but may not be stimulable for complex syllable structures or articulatory gestures. The difficulty to produce absent sounds reflects phonological representation deficit. Speech production is influenced by maturation in both boys and girls.