OBJETIVO: Analisar as desigualdades quanto ú distribuição de indicadores de saúde nas regiões e estados brasileiros, segundo indicadores de nível socioeconômico e demográfico no ano de 1999. MÉTODO: Realizou-se um estudo transversal ecológico, com enfoque exploratório, tendo como unidade de análise os estados (n = 27) e regiões (n = 5) brasileiras. Calcularam-se medidas descritivas de desigualdade. A correlação de Pearson e a análise de regressão linear foram utilizadas para identificar associações entre indicadores de saúde e indicadores de nível socioeconômico e demográficos selecionados. Os indicadores de saúde analisados foram a expectativa de vida ao nascer; a taxa de mortalidade infantil; mortalidade da criança (< 5 anos) por doenças diarréicas e respiratórias agudas; e mortalidade por homicídio e acidentes de trânsito. RESULTADOS: Observaram-se ganhos importantes na expectativa de vida ao nascer no período de 1991 a 1999, especialmente para os homens. Notou-se tendência a maiores ganhos nos estados com valores mais baixos de expectativa de vida ao nascer em 1991, o que conferiu maior homogeneidade ao indicador em anos recentes. A taxa de mortalidade infantil (por 1 000 nascidos vivos) no Brasil apresentou decréscimo de 28% no período de 1991 a 1999. No entanto, esse indicador ainda apresenta marcada variação entre as regiões - de 52,5 no Nordeste a 17,1 no Sul - e entre os estados - de 64,0 em Alagoas a 15,1 no Rio Grande do Sul. Quanto à mortalidade da criança < 5 anos (por 10 000), todos os estados do Nordeste apresentaram mortalidade por doenças diarréicas agudas maior ou igual ú mediana nacional (4,1 por 10 000), e todos os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentaram taxa de mortalidade infantil por doenças respiratórias agudas maior ou igual à mediana nacional (10,8 por 10 000). As taxas de mortalidade por acidentes de trânsito e homicídio (padronizadas por sexo e idade) em 1999 foram de 17,7 e 26,0 por 100 000 habitantes, respectivamente. Valores extremos foram observados em alguns estados para mortalidade por homicídio (57,8 por 100 000 em Pernambuco) e por acidentes de trânsito (54,5 por 100 000 em Roraima). A taxa de mortalidade por homicídio foi marcadamente associada com a urbanização (P = 0,001). Maiores taxas de mortalidade por acidentes de trânsito foram associadas a menores taxas de pobreza (beta = -0,93; P < 0,001) e de alfabetização (beta = -1,16; P = 0,005) e a maior crescimento populacional na última década (beta = 3,10; P = 0,016). CONCLUSÃO: O padrão de desigualdade em saúde no Brasil indica polarização entre as regiões e estados, assim como justaposição de doenças ligadas ao atraso e ao desenvolvimento, demandando um sistema de saúde comprometido com essas questões.
OBJECTIVE: To analyze the inequalities found using health indicators in the states and regions of Brazil, according to 1999 socioeconomic and demographic indicators. METHODS: An exploratory ecological cross-sectional study was carried out. The units of analysis were Brazilian states (n = 27) and regions (n = 5). Descriptive measures of inequality were calculated. PearsonÆs correlation and also linear regression analysis were used to identify associations between health indicators and selected socioeconomic and demographic indicators. The health indicators analyzed were: life expectancy at birth, infant mortality rate, mortality rate for children < 5 years due to acute diarrheal diseases and to acute respiratory infections, and deaths due to homicides and traffic accidents. RESULTS: Important gains were seen in life expectancy at birth over the 1991-1999 period, especially for males. There was a trend towards larger gains in states that had had lower life expectancy at birth in 1991, which produced greater homogeneity across Brazil in this indicator in recent years. The infant mortality rate decreased by 28% between 1991 and 1999. However, this indicator still varies widely among the regions-from 52.5 per 1 000 live births in the northeast to 17.1 per 1 000 in the south-and among states-from 64.0 per 1 000 in Alagoas to 15.1 per 1 000 in Rio Grande do Sul. With respect to children < 5 years, the mortality rate due to acute diarrheal diseases was equal to or higher than the national median (4.1 per 10 000) in all the northeastern states, and the mortality rate due to acute respiratory infections was equal to or higher than the national median (10.8 per 10 000) in all the southern, southeastern, and central-western states. The mortality rates (standardized by sex and age) due to traffic accidents and to homicides in 1999 were 17.7 and 26.0 per 100 000 inhabitants, respectively. Extreme values were found in some states for mortality due to homicide (57.8 per 100 000 in Pernambuco) and traffic accidents (54.5 per 100 000 in Roraima). The mortality rate due to homicide was strongly associated with urbanization (P = 0.001). Higher mortality rates due to traffic accidents were associated with lower poverty levels (beta = -0.93; P < 0.001), lower literacy rates (beta = -1.16; P = 0.005), and larger population growth over the past decade (beta = 3.10; P = 0.016). CONCLUSION: The pattern of health inequality in Brazil indicates a polarization among regions and states as well as a juxtaposition of diseases associated with underdevelopment and diseases linked to development, suggesting the need for a health system that is committed to addressing these issues.