Resumo O abortamento configura-se em um grave problema de saúde pública. Estudos realizados nos serviços de atenção obstétrica terciária em Salvador, Bahia, sobre o desempenho dos profissionais de saúde junto a adolescentes em situação de abortamento, revelaram que pesam sobre elas uma série de estereótipos e desconhecimento de suas características. Contudo, tais investigações não abordaram de forma particularizada a prática da Psicologia. A presente pesquisa buscou caracterizar a atuação de psicólogas junto a adolescentes em situação de abortamento. Realizou-se um estudo qualitativo de caráter exploratório, mediante a Análise de Discurso de 14 entrevistas com psicólogas de seis hospitais-maternidade de Salvador. Pôde-se constatar que a atuação das psicólogas estava sustentada por referenciais teórico-conceituais, que possibilitavam lidar com a singularidade das adolescentes, em cada ato de escuta. A prática das psicólogas mostrou-se sintonizada com as diretrizes do Ministério da Saúde para humanização da assistência, todavia, parte das entrevistadas não conhecia integralmente os documentos oficiais produzidos pelo Ministério da Saúde, norteadores das práticas nesses espaços, sugerindo que os textos relativos às políticas públicas não estavam no rol dos seus principais interesses. Ao mesmo tempo, esse desconhecimento interroga o próprio empenho institucional na difusão de políticas públicas mais democratizantes. A pesquisa evidenciou que as psicólogas estão atentas às peculiaridades das adolescentes, mantendo-as em um campo de grande visibilidade. Foram também capazes de realizar uma leitura precisa de diferentes aspectos da violência institucional que incide sobre essas usuárias, em situação de abortamento. Assim, as atuações relatadas indicam um paradigma mais humanizador de assistência em saúde.
Abstract Abortion is a serious public health problem. Studies about the performance of health professionals with adolescents in situations of abortion, carried out in the tertiary obstetric care services in Salvador, Bahia, have shown that a series of stereotypes and a lack of knowledge about their characteristics lay upon those adolescents. However, such studies have not dealt with the praxis of Psychology in a particularized manner. The current research aimed to characterize the performance of psychologists on adolescents in situations of abortion. A qualitative exploratory study was carried out through the Discourse Analysis of 14 interviews with psychologists from six maternity hospitals in Salvador. It became evident that the performance of the psychologists was supported by theoretical-conceptual references, which enabled them to deal with the singularity of the adolescents, in each act of listening. It was determined that the practice of the psychologists is in tune with the guidelines of the Ministry of Health for the humanization of assistance. Nevertheless, some of the interviewees did not fully know the documents produced by the Ministry of Health – guidelines for the practice in these spaces - suggesting that the texts related to public policies were not among their main interests. At the same time, this lack of knowledge questions the institutional commitment for the diffusion of more democratizing public policies. The research showed that the psychologists are sensitive to the peculiarities of the adolescents, making them visible in the psychology field. They were also able to perform a precise reading on different aspects of institutional violence that affects these attendees in situations of abortion. Thus, the reported actions indicated a more humanizing paradigm of healthcare.
Resumen El aborto se configura en un grave problema de salud pública. Los estudios realizados en los servicios de atención obstétrica terciaria en Salvador-Bahía, sobre el desempeño de los profesionales de salud junto a adolescentes en situación de aborto, revelaron que pesan sobre ellas una serie de estereotipos y desconocimiento de sus características. Sin embargo, esas investigaciones no abordaron de forma particularizada la práctica de la Psicología. La presente investigación buscó caracterizar la actuación de psicólogas junto a adolescentes en situación de aborto. Fue realizado un estudio cualitativo de carácter exploratorio, mediante el Análisis de Discurso de 14 entrevistas con psicólogas de seis hospitales-maternidad de Salvador. Se pudo constatar que la actuación de las psicólogas estaba sustentada por referencial teórico-conceptuales, que les posibilitaban lidiar con la singularidad de las adolescentes, en cada acto de escucha. La práctica de las psicólogas se mostró sintonizada con las directrices del Ministerio de Salud para humanización de la asistencia, sin embargo, parte de las entrevistadas no conocía integralmente los documentos oficiales producidos por el Ministerio de Salud, orientadores de las prácticas en esos espacios, sugiriéndonos que los textos relativos a las políticas públicas no estaban en el rol de sus principales intereses. Al mismo tiempo, ese desconocimiento interroga el propio empeño institucional en la difusión de políticas públicas más democratizadores. La investigación evidenció que las psicólogas están atentas a las peculiaridades de las adolescentes, manteniéndolas en un campo de gran visibilidad. También fueron capaces de realizar una lectura precisa de diferentes aspectos de la violencia institucional que incide sobre esas usuarias, en situación de aborto. Así, las actuaciones relatadas indican un paradigma más humanizado de asistencia en la salud.