Resumo Que as sociedades se deveriam pautar pela igualdade de gênero é um ideal normativo forte ao qual os estados costumam subscrever, nem que seja apenas verbalmente. Os Emirados Árabes Unidos, como um estado altamente globalizado e que aspira a um status superior, não estão excluídos desta dinâmica. Se nas décadas seguintes à independência, obtida em 1971, os direitos das mulheres tinham sido enfatizados como um sinal de progresso do país; hoje o governo dos EAU afirma que aqueles são de tal forma avançados que estão a estabelecer uma nova referência de empoderamento de gênero para a região do Oriente Médio. Além disso, os EAU também proclamaram o objetivo de pertencerem, até 2021, ao grupo dos vinte cinco primeiros países do mundo que são considerados gender-equal. Sugiro que essas proclamações oficiais são parte importante de uma estratégia de sinalização cujo objetivo é advogar, perante uma audiência internacional, que os EAU merecem um status superior àquele que detêm atualmente. Com base na interpretação apresentada por Larson e Svechenko da teoria da identidade social, proponho que a estratégia dos EAU neste quesito pode ser definida em termos de criatividade social. Esta estratégia baseia-se na criação de um novo valor – o padrão Emirati de igualdade de gênero – dentro do grupo dos países árabes. Aquela é operacionalizada através de, por um lado, táticas de ‘ensinar para o teste’ na área da participação política das mulheres, campo este que pode ser regulado facilmente pelo governo; e por outro, no ênfase excessivo atribuído às realizações profissionais de um pequeno grupo de mulheres altamente bem sucedidas. Neste último caso, como os números de emprego feminino são bastante baixos, o governo elege chamar a atenção para mulheres em posições profissionais específicas e não convencionais, como um modo de atribuir maior credibilidade à existência de seu próprio padrão superior de igualdade de gênero na região árabe.
Abstract That societies should be gender-equal is a prevailing normative ideal to which states at the very least pay lip service. The UAE as a highly globalised state that aspires to a superior status has not stood outside of these dynamics. Whereas in the decades since independence in 1971 women’s rights were emphasised as a sign of the country’s progress, nowadays, the UAE government portrays women’s rights as being advanced to such an extent that they are setting up a new gender empowerment benchmark for the Middle Eastern region. Additionally, the UAE has also proclaimed the goal of becoming one of the top 25 gender-equal states in the world by 2021. I suggest that these official proclamations are indicative of a signalling strategy whose aim is to advocate to an international audience that the UAE deserves a status higher than it currently holds. Based on Larson and Svechenko’s interpretation of social identity theory, I claim that the UAE’s strategy is one of social creativity. It rests on creating a new value – the Emirati standard of gender equality – within the Arab group. The former is operationalised through, on the one hand, ‘teaching to the test’ tactics in the area of women’s political participation, a field that can be easily regulated by the government. And on the other, on overemphasising the professional deeds of a small group of high-achieving women. In the latter case, as the numbers of females in employment are rather low, the government elects to call attention to women in specific and unconventional positions so as to lend greater credence to the existence of their own superior standard of gender equality within the Arab region.