São descritos dois surtos da intoxicação espontânea por Tetrapterys multiglandulosa em bovinos e a reprodução experimental da toxicose em ovinos. Os dois surtos espontâneos ocorreram na mesma fazenda localizada no município de Bataiporã, Mato Grosso do Sul. O primeiro surto ocorreu em julho-outubro de 2004 e envolveu uma população bovina sob risco de 290 vacas prenhes que haviam sido introduzidas em um pasto de 60 hectares onde havia uma área de reserva legal, altamente infestada por T. multiglandulosa. Dessas, 230 vacas (79,3%) abortaram, pariram natimortos ou bezerros fracos que morreram alguns dias após o nascimento. Sete vacas adultas morreram. Uma vaca e um bezerro de 10 dias foram necropsiados. O segundo surto ocorreu em setembro-outubro de 2005, 40 dias após 285 novilhas de dois anos de idade terem sido introduzidas no mesmo pasto infestado por T. multiglandulosa onde ocorrera o primeiro surto no ano anterior. Nove novilhas adoeceram e morreram; três foram necropsiadas. Os sinais clínicos dos bovinos afetados, incluindo um bezerro de 10 dias de idade, consistiam de acentuada letargia, emagrecimento com distensão do abdômen (ascite), edema subcutâneo de declive, ingurgitamento e pulso venoso da jugular, dispnéia e arritmia cardíaca. Os achados de necropsia incluíam corações globosos e com câmaras cardíacas dilatadas, áreas brancas e firmes no miocárdio e alterações relacionadas a insuficiência cardíaca como edemas cavitários, fígado de noz-moscada, edema pulmonar e grande coágulo no ventrículo esquerdo. As alterações histopatológicas incluíam necrose e fibrose do miocárdio, congestão centrolobular passiva crônica do fígado, edema pulmonar e degeneração esponjosa da substância branca do encéfalo. Os ovinos do experimento morreram 29 (Ovino 1) e 35 (Ovino 2) dias após terem recebido as folhas de T. multiglandulosa nas doses médias diárias de 14 g/kg (Ovino 1) e 7,5 g/kg (Ovino 2). O aparecimento dos sinais clínicos ocorreu a partir do 7º dia (Ovino 1) e do 4º dia (Ovino 2) de experimento e incluíam taquicardia e arritmia, letargia e pressão da cabeça contra objetos. Os achados de necropsia e histopatologia em ambos os ovinos experimentais foram estreitamente semelhantes aos observados nos bovinos afetados nos dois surtos espontâneos.
Two outbreaks of poisoning by Tetrapterys multiglandulosa in cattle and the experimental reproduction of the toxicosis in sheep are described. Both outbreaks occurred on the same farm in the municipality of Bataiporã, state of Mato Grosso do Sul, Brazil. The first outbreak occurred in July-October 2004 and involved a cattle population at risk of 290 pregnant cows, which were introduced into a 60 hectare pasture with a legal reservation area heavily infested by T. multiglandulosa. Of these, 230 cows (79.3%) aborted, had stillbirths or delivered weak calves that died few days after birth. Seven cows died, and one cow and a 10-day-old calf were necropsied. The second outbreak occurred in September-October 2005, 40 days after 285 2-year-old heifers were introduced into the same pasture infested by T. multiglandulosa and where the first outbreak had occurred in the previous year. Nine heifers got sick and died, and three of then were necropsied. Clinical signs of affected cattle, including a 10-day-old calf, were marked lethargy, loss of weight with distension of the abdomen (ascites), subcutaneous dependant edema, distended and pulsating jugular veins, dyspnea and cardiac arrhythmia. Necropsy findings included a round and dilated heart with whitish and firm areas in the myocardium, and changes related to cardiac failure such as cavitary edema, nutmeg liver, pulmonary edema, a large blood clot in the left ventricle. Histopathological changes included necrosis and fibrosis in the myocardium, chronic passive hepatic centrolobular congestion, pulmonary edema, and spongy degeneration in the white matter of the brain. Experimental sheep died 29 (Sheep 1) and 35 (Sheep 2) days after being fed average daily doses of T. multiglandulosa corresponding to 14g/kg (Sheep 1) and 7,5 g/kg (Sheep 2) per day. Clinical signs were observed from the 7th day (Sheep1) and the 4th day (Sheep 2) of the experiment and included tachycardia, arrhythmia, lethargy and head pressing. Necropsy and histopathologic findings in both experimental sheep were very similar to those observed in affected cattle of the two spontaneous outbreaks.