Resumo O presente artigo traz evidências em favor da hipótese de que o termo Xinguano para ‘mão’, *wɨʂɨku, constitui uma inovação lexical compartilhada pelas línguas deste ramo da família Arawak e, ainda, que formações para ‘dedo’, envolvendo a composição das raízes nominais para ‘mão’ e ‘cabeça’, *kapɨ-tɨwɨ, colocam o Waurá, o Mehinaku e o Kustenaú à parte de outras línguas da família, incluindo o Yawalapiti. O étimo *kʰapɨ ‘mão’, reconstruído para o Proto-Arawak, apresenta cognatos obscuros nas línguas Arawak do Xingu, instanciando desenvolvimentos interessantes na semântica lexical e uma mudança sonora relativamente pouco comum no reflexo atestado em Yawalapiti. O trabalho inclui uma apreciação dos dados das línguas Arawak do Xingu coletados por Karl von den Steinen na sua expedição de 1887-1888. Em nível mais geral, se propõe aqui a modificação ou a rejeição de certas afirmações feitas por Payne (1991) a respeito de desenvolvimentos diacrônicos, como a postulação de uma mudança *a > ɨ em Waurá, e a reconstrução de *h em posição final de sílaba, um dos aspectos mais controversos do seu trabalho de reconstrução comparativa.
Abstract The present paper discusses evidence supporting the claim that the common Xinguan Arawak noun for ‘hand’, *wɨʂɨku, is a shared lexical innovation of this subgroup and that, in addition, a formation for ‘finger’ derived from a nominal compound with the roots for ‘hand’ and ‘head’, *kapɨ-tɨwɨ, sets Waurá, Mehinaku and Kustenaú apart from other languages of the family, including Yawalapiti. The reconstructed Proto-Arawak etymon for ‘hand’, *kʰapɨ, is preserved in the Xinguan Arawak languages only in the form of obscure cognates, instantiating interesting developments in lexical semantics as well as a relatively uncommon sound change in Yawalapiti. The discussion incorporates and addresses the historical linguistic significance of the earliest documentation of the Xinguan Arawak languages, the material gathered by Karl von den Steinen in 1887-1888. The analyses and data discussed highlight serious shortcomings in some of the reconstructed forms and diachronic developments advanced by Payne (1991), such as the postulation of a shift *a > ɨ in Waurá and the reconstruction of syllable-final *h for the Proto-Arawak language, one of the most controversial aspects of his comparative study.