Resumo Neste artigo, problematizamos a política científica nacional, tal como proposta pela Portaria 1.122/2020 do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), que institui áreas tecnológicas prioritárias, no que se refere a projetos de pesquisa, desenvolvimento de tecnologias e inovações. Buscamos demonstrar como, subjacente a tal política, está a ideia de transversalidade hierárquica, com as ciências sociais, humanas e de base acessórias às áreas aplicadas, bem como a expectativa de que os projetos científicos gerem produtos e serviços comercializáveis. Por meio de uma discussão que explicita a noção de tecnologia mobilizada pelo Ministério e o privilégio que este confere à relação entre empresas e áreas tecnológicas, procuramos mostrar como tal perspectiva se diferencia daquela proposta, em meados do século XX, pela cibernética, que apostava nas possibilidades comunicativas entre diferentes áreas científicas. Argumentamos que o debate mais recente sobre uma ecologia das práticas permite levar adiante uma perspectiva ainda mais expansiva, que reconhece o caráter situado de toda ciência e vislumbra colaborações entre práticas de conhecimento científicas e não-científicas, mutuamente implicadas por situações ecológicas particulares. Nesse contexto, o potencial das ciências sociais inclui viabilizar esse tipo de cooperação, visando responder a problemas que tenham em conta a manutenção da multiplicidade dos modos de vida.
Abstract In this article, we problematize the national scientific policy, as proposed by Ordinance 1.122/2020 of the Ministry of Science, Technology, Innovations and Communications (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações - MCTIC), which establishes priority technological areas with regard to research projects, technology development and innovations. We seek to demonstrate how the idea of hierarchical transversality underlies this policy, with the social, human and basic sciences accessory to the applied areas, as well as the expectation that scientific projects generate marketable products and services. Through a discussion that explains the notion of technology mobilized by the Ministry and the privilege that it confers on the relationship between companies and technological areas, we attempt to demonstrate how this perspective differs from that proposal, in the middle of the 20th century, by cybernetics, which bid on communicative possibilities between different scientific areas. We argue that the most recent debate concerning an ecology of practices allows us to carry on an even more expansive perspective, which recognizes the situated character of all science and envisions collaborations between scientific and non-scientific knowledge practices, mutually implied by particular ecological situations. In this context, the potential of social sciences includes enabling this type of cooperation, in order to respond to problems that take into account the maintenance of the multiplicity of ways of life.
Resume Cet article problématise la politique scientifique nationale telle qu’elle est proposée par l’Arrêté 1122/2020 du Ministère brésilien de la science, de la technologie, des innovations et des communications (MCTIC), qui institue des domaines technologiques prioritaires en matière de projets de recherche, de développement de technologies et d’innovations. L’objectif est de démontrer l’existence sous-jacente d’une transversalité hiérarchique qui considère les sciences sociales et humaines et les sciences de base accessoires par rapport aux sciences appliquées, et l’attente d’une génération de produits et de services commercialisables par les projets scientifiques. La discussion sur la notion de technologie mobilisée par le Ministère et le privilège qu’il accorde à la relation entre entreprises et domaines technologiques montre qu’une telle perspective se différencie de la proposition (au milieu du XXe siècle) de la cybernétique, qui misait sur les possibilités communicatives entre différents champs scientifiques. Le débat plus récent sur une écologie des pratiques permet de mener à bien une perspective encore plus expansive, qui reconnaît le caractère déterminé de toute science et perçoit des collaborations entre pratiques de connaissance scientifiques et non-scientifiques, mutuellement impliquées dans des situations écologies particulières. Dans ce contexte, le potentiel des sciences sociales inclut la viabilisation de ce type de coopération pour répondre à des problèmes qui tiennent compte du maintien de la multiplicité des modes de vie.