INTRODUÇÃO: Estudos têm demonstrado ser a doença do refluxo gastroesofágico capaz de alterar a qualidade de vida e a produtividade no trabalho dos doentes por ela acometidos. Instrumentos para esse tipo de avaliação são provenientes, em sua maioria, de países de língua inglesa e/ou francesa. A utilização desses instrumentos em nosso meio demanda criterioso processo de tradução e validação. OBJETIVOS: Traduzir para língua portuguesa os questionários GERD-HRQL (Gastroesophageal Reflux Disease - Health Related Quality of Life), HBQOL (Heartburn Specific Quality of Life Instrument) e GSAS (Gastroesophageal Reflux Disease Symptom Assessment Scale) específicos para avaliação de qualidade de vida na doença do refluxo gastroesofágico. Testar suas propriedades psicométricas de confiabilidade e validade. MÉTODOS: Cento e trinta e dois pacientes com doença do refluxo gastroesofágico (idade média 54,9 anos, ± DP 13,9) atendidos no ambulatório de motilidade digestiva da Universidade Federal de São Paulo, SP, e de gastrocirurgia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, SP, aceitaram participar do presente estudo, fornecendo termo de consentimento pós-esclarecimento. Destes, 40 pacientes participaram da fase de pré-teste (28 do sexo feminino e 12 do sexo masculino, com idade média de 55,3 anos, ± DP 14,7) e 92 da fase de validação (64 do sexo feminino e 28 sexo masculino, com idade média 54,7 anos e ± DP 13,7). A tradução e adaptação cultural foi realizada de acordo com o método de GUILLEMIN et al., sendo a validação dos questionários traduzidos (GERD-HRQL, HBQOL e GSAS) realizada em relação aos instrumentos genérico SF-36 e sintomático ESDRGE (SQGERD). RESULTADOS: A adaptação cultural implicou na troca de quatro palavras no GERD-HRQL, seis no HBQOL e nove no GSAS. Posteriormente a esta fase, o questionário GSAS foi abandonado por problemas no cálculo do escore, sendo as propriedades de medidas testadas nos dois questionários remanescentes, esses se mostraram reprodutíveis para uso inter e intra-observador com valores de 0,980 e 0,968, respectivamente, para o GERD-HRQL, e valores que variaram de 0,868 a 0,972, respectivamente, para o HBQOL. O questionário HBQOL demonstrou alta consistência interna (>0,70) para três das quatro dimensões avaliadas (aspecto físico, dor, sono). Os resultados encontrados na fase de validação apresentaram bons níveis de correlação com os questionários SF-36 e ESDRGE (SQGERD). CONCLUSÕES: As versões para a língua portuguesa (Brasil) dos instrumentos GERD-HRQL e HBQOL, adaptadas ao padrão cultural brasileiro, configuram-se em opções válidas, confiáveis, com baixo nível de desgaste do paciente e de fácil aplicação para avaliação de qualidade de vida na DRGE em nosso meio. O instrumento HBQOL é a única opção de avaliação multidimensional de qualidade de vida atualmente disponível para uso no Brasil. A versão em português do instrumento GSAS mostrou-se inadequada para avaliação de qualidade de vida na DRGE em nosso meio.
BACKGROUND: Gastroesophageal reflux disease has been shown patients to alter quality of life and working productivity. Most of the instruments available for this type of assessment come from English or French speaking countries. To use these instruments in Brazil requires a judicious process of translation and validation. AIM: Translating to Portuguese the questionnaires GSAS (Gastroesophageal Reflux Disease Symptom Assessment Scale), GERD-HRQL (Gastroesophageal Reflux Disease - Health Related Quality of Life) and HBQOL (Heartburn Specific Quality of Life Instrument) specific for quality of life assessment in gastroesophageal reflux disease. Testing the psychometric properties of reliability and validity of the referred disease specific instruments. METHODS: One hundred and thirty two gastroesophageal reflux disease patients (mean age 54.9 years and ± SD 13.9) from the Digestive Disease Motility Outpatient Clinic, Federal University of São Paulo, SP, Brazil and the Department of Surgical Gastroenterology "São José do Rio Preto" School of Medicine, São José do Rio Preto, SP, Brazil, accepted to participate and signed the informed consent form. Forty of these patients took part in the pre-test phase (28 females and 12 males, mean age 55.3 years ± SD 14.7) and the remaining 92 part in the validation phase (64 females and 28 males, mean age 54.7 years and ± SD 13.7). The translation and cultural adaptation processes were carried out accordingly us to the method of Guillemin et al (1993). The validation processes of the disease specific translated questionnaires (GSAS, GERD-HRQL and HBQOL) was performed in relation to a generic (SF-36) and a symptomatic (SQGERD) instrument. RESULTS: Nine words of the GSAS, four of the GERD-HRQL and six of the HBQOL were replaced during the cultural adaptation phase. The GSAS questionnaire was discontinued after this phase because of scoring problems. Therefore reliability and validity were tested only for the two remaining questionnaires. These questionnaires proved to be reproducible for both inter and intra-observer relationships (0.980 and 0.968 values for the GERD-HRQL and varying values of 0.868 to 0.972 for the HBQOL). The HBQOL questionnaire demonstrated high internal consistency (>0.70) for three of the four dimensions tested (physical aspect, pain, sleep). Good correlations levels with the SF-36 and SQGERD questionnaires were demonstrated during the validation phase. CONCLUSIONS: The cross cultural adaptation of the Portuguese (Brazil) versions of the GERD-HRQL and HBQOL instruments proved to be reliable and valid options with low burden level for assessment of quality of life in gastroesophageal reflux disease our country. The HBQOL is the only multidimensional questionnaire for quality of life assessment in gastroesophageal reflux disease currently available in Brazil. The Portuguese (Brazil) version of the GSAS instrument proved inadequate for quality of life assessment in our country.