RESUMO RACIONAL: O transplante de fígado é uma terapia complexa e valiosa. Entretanto, complicações que prejudicam a qualidade de vida pós-operatória, como a hérnia incisional, devem ser mais bem elucidadas, analisando os fatores de risco e medidas profiláticas. OBJETIVOS: Definir a taxa de hérnia incisional em pacientes submetidos a transplante de fígado em uma população do sul do Brasil, avaliar os fatores de risco relacionados, a fim de estabelecer futuramente medidas de otimização prévia e cuidados profiláticos específicos. MÉTODOS: Foram analisados, retrospectivamente, pacientes submetidos a transplante de fígado adultos, de janeiro de 2004 a novembro de 2020, avaliando suas características demográficas, resultados cirúrgicos e fatores predisponentes. RESULTADOS: Dentre os 261 pacientes transplantados hepáticos incluídos, a hérnia incisional foi diagnosticada em 71 (27,2%). Vinte e oito do total de 71 pacientes com hérnia incisional (39,4%) desenvolveram hérnia incisional durante o primeiro ano pós-transplante. A maioria era do sexo masculino [n=52, (73,2%)]; 52/71 (73,2%) apresentavam cirrose secundária ao vírus da hepatite C; 33/72 (46,5%) foram portadores de carcinoma hepatocelular. Sexo masculino (p=0,044), diabetes mellitus (p=0,008) e rejeição celular aguda (p<0,001) foram fatores de risco estatisticamente significantes para hérnia incisional. Vinte e oito pacientes (39,4%) foram submetidos à hernioplastia incisional com tela, com taxa de recidiva de 17,8%. CONCLUSÕES: Hérnia incisional após transplante de fígado é um problema relativamente comum, associado ao sexo masculino, diabetes e também a rejeição celular aguda. Este é um problema que não deve ser banalizado, já que pode levar à redução da qualidade de vida, comprometer os resultados tardios do transplante de fígado e pode levar a encarceramento ou estrangulamento.
ABSTRACT BACKGROUND: Liver transplantation is a complex and valuable therapy. However, complications that burden postoperative quality of life, such as incisional hernia, are to be better elucidated, such as risk factors and prophylactic measures. AIM: This study aimed to define the rate of incisional hernia in patients who underwent liver transplantation in a population in southern Brazil and to assess the related risk factors in order to establish measures for prior optimization and specific prophylactic care in the future. METHODS: Patients undergoing adult Liver transplantation from January 2004 to November 2020 were retrospectively analyzed, assessing demographic features, surgical outcomes, and predisposing factors. RESULTS: Among 261 liver transplantation patients included, incisional hernia was diagnosed in 71 (27.2%). Of the 71 incisional hernia patients, 28 (39.4%) developed IH during the first post-transplant. Majority of the patients were male (52/71, 73.2%); of the 71 patients, 52 had hepatitis C virus (HCV) and 33 (46.5%) had hepatocellular carcinoma (HCC). Male gender (p=0.044), diabetes mellitus (p=0.008), and acute cellular rejection (p<0.001) were risk factors for IH. In all, 28 (39.4%) patients were submitted for hernia repair with mesh, with a recurrence rate of 17.8%. CONCLUSION: Incisional hernia after liver transplantation is a relatively common problem associated with male gender, diabetes, and acute cellular rejection. This is a problem that should not be trivialized in view of the complexity of liver transplantation, as it can lead to a reduction in quality of life as well as jeopardize late liver transplantation results and lead to incarceration and strangulation.