RESUMO A adoção de políticas públicas de inclusão pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desde o processo seletivo de 2005, atrelada às modificações nos vestibulares de 2014 e, mais recentemente, no de 2016, possivelmente trouxe grandes mudanças no perfil do estudante de Medicina dessa universidade. Desse modo, o objetivo do presente estudo é avaliar o perfil sociodemográfico desses acadêmicos, bem como suas pretensões na escolha da carreira médica e da futura especialidade. O estudo de corte transversal foi realizado com 290 acadêmicos do primeiro, terceiro e sexto ano da graduação médica da Unicamp por meio de um questionário anônimo aplicado após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. Houve coleta de dados sociodemográficos, além dos fatores de influência para a escolha da profissão e da especialidade médica. A análise dos dados revelou uma amostra com idade média de 20-24 anos, predominantemente composta por mulheres (63,2%), da etnia branca (77,5%), procedentes do Estado de São Paulo (84,8%) e de regiões interioranas (62,3%). Para o primeiro ano, houve presença de negros (6,6%) e diferença estatística para pardos (22,6%), comparativa com o terceiro e sexto ano, egressos de ensino fundamental (42,5%) e médio (73,6%) públicos, com menor escolaridade materna (ensino médio) e renda familiar inferior (p < 0,001). Por sua vez, o terceiro e sexto ano eram compostos majoritariamente por alunos brancos (76,7% e 90,3%, respectivamente), oriundos de escola privada no ensino fundamental e médio, com maior escolaridade materna (ensino superior ou pós-graduação) e renda familiar mais elevada. Ainda, verificou-se variação das opções de especialidade ao longo do curso (p < 0,001). No primeiro ano, as especialidades mais pretendidas foram Cirurgia/Ortopedia (37,7%), Clínica Médica/Neurologia (23,6%) e Psiquiatria (11,3%). Para o terceiro ano, as especialidades mais desejadas foram Clínica Médica/Neurologia (40%), Cirurgia/Ortopedia (13,4%) e Ginecologia/Obstetrícia (13,3%). Entre os alunos do sexto ano, as especialidades mais escolhidas foram Clínica Médica/Neurologia (24,5%), Ginecologia/Obstetrícia (20,2%) e Cirurgia/Ortopedia (17%). Acadêmicos do primeiro ano também apresentaram diferentes aspirações abrangendo o local de trabalho futuro, com mais desejo de atuar somente no SUS ou em programas internacionais. Nesse contexto, os resultados apontam que a política de bonificação da Unicamp e suas alterações ao longo do tempo, em especial no vestibular de 2016, mostraram-se efetivas em democratizar o acesso à graduação médica, com maior pluralidade demográfica, social, econômica e étnica atreladas a variações na escolha da carreira e da especialidade médica ao longo das turmas analisadas.
ABSTRACT Affirmative action policies adopted by University of Campinas (Unicamp) in 2005 entrance exams, added to 2014 modifications, and more recently in 2016, lead to a big profile change of University of Campinas medical students. Therefore, this paper aims to describe academics’ sociodemographic profile, as well as their aspirations in choice of medical career and future specialty. The cross-sectional study included 290 undergraduate years 1, 3 and 6 (Y1, Y3 and Y6) medical students from Unicamp who answered an anonymous questionnaire applied after approval by the Institutional Review Board. Socio demographic data and factors potentially influencing decisions on medical career and specialty choices were analyzed. Data analysis showed a sample composed mostly of white (77.5%), female (63.2%), 20-24 years population, from the State of São Paulo (84.8%) and interior (62.3%). For Y1, there was statistically significant difference for ‘pardo’ (22.6%) – it can be translated as brown – and black (6.6%) – there wasn’t black in Y3 and Y6 – ethnic groups, public school provenience – both elementary school (42.5%) and high school (73.6%) –, lower maternal schooling (high school, p < 0.001) and lower family income (p < 0.001). Years 3 and 6 majority was composed of white academics (76.7% and 90.3%, respectively), coming from private schools (basic education and high school), with further maternal education (higher education/post-graduation) and bigger average income. The influence factors leading to choice for medical specialty modified (p < 0,001) among graduation years. Y1 students opted more frequently for ‘surgery/orthopedics’ (37.7%), ‘medical clinic/neurology’ (23.6%) and ‘psychiatry’ (11.3%). To Y3, the most desired specialties were ‘medical clinic/neurology’ (40%), ‘surgery/orthopedics’ (13.4%) and ‘obstetrician-gynecologist’ (13.3%). Amongst Y6 undergraduates, the most chosen specialties were ‘medical clinic/neurology’ (24.5%), ‘obstetrician-gynecologist’ (20.2%) and ‘surgery/orthopedics’ (17%). Y1 academics also revealed different aspirations regarding intended future workplace, with larger desire to practice only on SUS or on international programs. In this context, results indicate that Unicamp inclusion policy and its modifications over the years, particularly in 2016 entrance exams, have been effective in broadening access to medical education, such as greater socio demographic, economic and ethnic plurality coupled with variations in reasons for choice of medical career and specialty among graduation years analyzed.