RESUMO O objetivo deste artigo é explorar alguns dos limites ideológicos e empíricos dos estudos sobre o populismo a partir de uma perspectiva baseada na história e em teorias latino-americanas, por um lado, e em ideias atuais sobre digitalização e discurso político, por outro. Em primeiro lugar, argumento que os estudos sobre o populismo têm um preconceito monolíngue que encobre uma visão etnocêntrica sobre a investigação acadêmica. Como consequência, quando aplicado ao discurso político e à história da América Latina, o termo “populismo” implica uma visão pejorativa de outras democracias que não as europeias liberais. Deixando de lado essa perspectiva, apresento, então, uma visão diferente dos populismos latino-americanos, que dá lugar a uma perspectiva mais rica e complexa, incluindo o papel-chave do “povo” como ator discursivo que pode até mesmo dispensar um líder populista, especialmente no caso das democracias mediatizadas. Como estudo de caso, analiso o ativismo no Chile, observando os Trending Topics (TT) do Twitter durante a primeira semana dos protestos em massa, em outubro de 2019. A análise das hashtags de TT ajudou-nos a descrever melhor esse processo como um processo de ativismo algorítmico artesanal que desenvolveu pelo menos quatro táticas: a formulação de exigências explícitas, tuitaços na madrugada, variação sintagmática, e confrontação e apropriação de hashtags.
ABSTRACT The aim of this article is to explore some of the ideological and empirical limits of studies on populism from a perspective based on Latin American history and theories, on one hand, and current ideas about digitalization and political discourse, on the other. I will first argue that studies on populism have a monolingual bias that conceals an ethnocentric view on academic research. As a consequence, when the term “populism” is applied to Latin American political discourse and history, it implies a pejorative view on democracies other than liberal European. Leaving aside this perspective, I will then present a different view of Latin American populisms, which allows for a richer, more complex perspective, including the key role of “the people” as a discursive actor that can even dispense with a populist leader, especially in the case of mediatized democracies. As a case study, I will analyze activism in Chile by observing Twitter’s Trending Topics (TT) during the first week of the mass protests in October 2019. The analysis of TT hashtags helped us to better desccribe this process as one of handcrafted algorithmic activism which developed at least four tactics: the formulation of explicit demands, off-hours tweetstorms, syntagmatic variation, and HT confrontation and appropriation.