RESUMO Após o surto relacionado ao vírus Zika (ZIKV) no Brasil, entre os anos de 2015 e 2016, gestantes que haviam sido infectadas tiveram bebês com sequelas neurológicas importantes. Na época, foram relatados diversos casos de microcefalia associada a outras desordens neurológicas. Esse episódio se configurou como emergência em saúde pública de caráter mundial e diferentes estudos foram (e têm sido) realizados para acompanhar os bebês que haviam sido expostos a infecção congênita relacionada ao ZIKV. Essas crianças apresentam alterações neurológicas específicas, as quais são descritas na literatura como: microcefalia, desproporções craniofaciais, espasticidade, convulsões, irritabilidade, artrogripose, disfunções de tronco cerebral - disfagia e anormalidades oculares -, alterações auditivas, calcificações cerebrais, desordens corticais e ventriculomegalia. (ARAÚJO, et. al., 2016; FRANÇA, et. al., 2016; MIRANDA, et. al.,2016; MOORE, et. al.,2017) Visto o número reduzido de estudos dedicados a linguagem nesse cenário, o objetivo da pesquisa é refletir sobre a linguagem e a dimensão do corpo em crianças com lesões neurológicas associadas a Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZV). A discussão tomou como referência o momento em que essas crianças começam a frequentar o espaço escolar. Assim, a partir do recorte metodológico de estudo de caso e da observação participante, foram realizadas filmagens de situações dialógicas, ocorridas no ambiente escolar, entre uma criança diagnosticada com a SCZV e seus colegas, professores, a Auxiliar de Desenvolvimento Infantil e uma pesquisadora. Como resultado, evidenciamos a presença de um corpo que, mesmo submetido às limitações impostas pela lesão orgânica, fazia presença no diálogo pedindo por interpretação. A técnica da observação participante possibilitou que essa presença pudesse ser reconhecida no espaço escolar, o que nos mostra a maneira pela qual o encontro interprofissional pode produzir deslocamentos que levem um profissional da educação a ocupar uma posição que dê condições para mudanças serem operadas na relação da criança com a linguagem e com o grupo.
ABSTRACT After the outbreak related to the Zika virus (ZIKV) in Brazil, between the years 2015 and 2016, pregnant women who had been infected had babies with important neurological sequelae. At the time, several cases of microcephaly associated with other neurological disorders were reported. This episode was configured as a worldwide public health emergency and different studies were (and have been) carried out to monitor babies who had been exposed to congenital ZIKV infection. These children have specific neurological disorders, which are described in the literature as microcephaly, craniofacial disproportions, spasticity, seizures, irritability, arthrogryposis, brainstem dysfunctions - dysphagia and eye abnormalities -, hearing disorders, brain calcifications, cortical disorders, and ventriculomegaly. (ARAÚJO, et. al., 2016; FRANCE, et. al., 2016; MIRANDA, et. al., 2016; MOORE, et. al., 2017) Given the small number of studies dedicated to language in this scenario, the objective of the research is to reflect on language and body dimension in children with neurological injuries associated with Congenital Zika Syndrome (CZS). The discussion took as a reference the moment when these children begin to attend school. Thus, based on the methodological approach of the case study and participant observation, filming of dialogic situations, which occurred in the school environment, was filmed between a child diagnosed with CZS and his colleagues, teachers, the Child Development Assistant, and a researcher. As a result, we evidenced the presence of a body that, even submitted to the limitations imposed by the organic injury, was present in the dialogue asking for interpretation. The participant observation technique allowed this presence to be recognized in the school space, which shows us how the interprofessional meeting can produce displacements that lead an education professional to occupy a position that allows conditions for changes to be operated in the relationship of the child with language and with the group.