Resumo Desde 2008, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), como parte de sua política de ações afirmativas, destina anualmente dez vagas para estudantes provenientes de comunidades indígenas em seus cursos de graduação. A presença desses sujeitos, historicamente ausentes do espaço universitário, representa um momento enriquecedor, tanto para os estudantes quanto para a própria instituição, mas também traz consigo muitos desafios. Este artigo analisa as experiências universitárias de alguns estudantes Kaingang na UFRGS – etnia que representa 85% dos alunos indígenas ingressantes na instituição. Mais especificamente, examina como eles acompanharam os conteúdos de seus cursos de graduação e como se relacionaram com colegas não indígenas e com professores. Os resultados mostram as dificuldades no uso, reprodução e apropriação dos conhecimentos acadêmicos enfrentadas pelos indígenas na tarefa de se tornarem estudantes universitários, bem como o tipo e a qualidade das relações estabelecidas com colegas e professores. Concluímos que o processo de aprendizagem do ofício de estudante é mais árduo e lento para os estudantes indígenas, tendo em vista as baixas expectativas de ingressar no ensino superior, a sua formação escolar precária, a falta de diálogo intercultural na universidade e as situações preconceituosas e discriminatórias vivenciadas no interior da UFRGS.
Abstract Since 2008, the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS) has annually allocated ten places for students from indigenous communities in its undergraduate courses, as part of its affirmative action policy. The presence of these subjects, historically absent from the university space, represents an enriching moment for both students and the institution itself, but it also brought with it many challenges. The article analyzes the university experiences of some Kaingang students at UFRGS – an ethnic group that represents 85% of indigenous students entering the institution. More specifically, it examines how they followed the content of their undergraduate courses and how they related to non-indigenous colleagues and teachers. The results show the difficulties in the use, reproduction and appropriation of the academic knowledge faced by the indigenous in the task of becoming university students, as well as the type and quality of relationships established with peers and teachers. We conclude that the learning process of the student’s craft is more arduous and slower for indigenous students, considering: the low expectations of entering higher education; the precarious educational background of these subjects; the lack of intercultural dialogue at the university and the prejudiced and discriminatory situations experienced within the UFRGS.