ResumoIntrodução:Os distúrbios do sistema de condução cardíaca são frequentes no pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio. Majoritariamente reversíveis, estão associados com alguma injúria do tecido de condução, causada pela própria cardiopatia isquêmica ou por fatores perioperatórios.Objetivo:Primário: investigar a associação entre fatores perioperatórios com o surgimento de bloqueio atrioventricular no pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio. Secundários: determinar a necessidade de estimulação cardíaca artificial temporária e de marca-passo definitivo no pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio e seu impacto na permanência e na mortalidade hospitalar.Métodos:Análise de Coorte retrospectiva de pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio, do banco de dados da unidade de Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, pelo método de regressão logística.Resultados:No período de janeiro de 1996 a dezembro de 2012, foram realizadas 3532 cirurgias de revascularização do miocárdio. Duzentos e oitenta e oito (8,15%) pacientes apresentaram bloqueio atrioventricular durante o pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio, necessitando de estimulação cardíaca artificial temporária. Oito dos que apresentaram bloqueio atrioventricular evoluíram para implante de marcapasso definitivo (0,23% do total da amostra). A análise multivariada evidenciou associação significativa de bloqueio atrioventricular com idade acima de 60 anos (OR=2,34; IC 95% 1,75-3,12; P<0,0001), sexo feminino (OR=1,37; IC 95% 1,06-1,77; P=0,015), doença renal crônica (OR=2,05; IC 95% 1,49-2,81; P<0,0001), fibrilação atrial (OR=2,06; IC 95% 1,16-3,66; P=0,014), classe funcional III e IV da New York Heart Association (OR=1,43; IC 95% 1,03-1,98; P=0,031), infarto agudo do miocárdio perioperatório (OR=1,70; IC 95% 1,26-2,29; P<0,0001) e com o uso do balão intra-aórtico no pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio (OR=1,92; IC 95% 1,21-3,05; P=0,006). A presença de bloqueio atrioventricular acarretou um aumento significativo da mortalidade (17,9% vs. 7,3% nos que não desenvolveram bloqueio atrioventricular) (OR=2,09; IC 95% 1,46-2,99; P<0,0001) e um tempo mais prolongado de permanência hospitalar (12,75 dias vs. 10,53 dias nos que não desenvolveram bloqueio atrioventricular) (OR=1,01; IC 95% 1,00-1,02; P=0,01).Conclusão:O bloqueio atrioventricular, no pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio, é, na maioria dos casos, transitório, sendo associado a diversos fatores perioperatórios: idade acima de 60 anos, sexo feminino, doença renal crônica, fibrilação atrial, classe funcional III e IV da New York Heart Association, infarto agudo do miocárdio perioperatório e uso do balão intra-aórtico. Sua ocorrência prolonga a internação hospitalar e, sobretudo, duplica o risco de mortalidade.
AbstractIntroduction:Disturbances of the cardiac conduction system are frequent in the postoperative period of coronary artery bypass surgery. They are mostly reversible and associated with some injury of the conduction tissue, caused by the ischemic heart disease itself or by perioperative factors.Objective:Primary: investigate the association between perioperative factors and the emergence of atrioventricular block in the postoperative period of coronary artery bypass surgery. Secondary: determine the need for temporary pacing and of a permanent pacemaker in the postoperative period of coronary artery bypass surgery and the impact on hospital stay and hospital mortality.Methods:Analysis of a retrospective cohort of patients submitted to coronary artery bypass surgery from the database of the Postoperative Heart Surgery Unit of the Sao Lucas Hospital of the Pontifical Catholic University of Rio Grande do Sul, using the logistic regression method.Results:In the period from January 1996 to December 2012, 3532 coronary artery bypass surgery were carried out. Two hundred and eighty-eight (8.15% of the total sample) patients had atrioventricular block during the postoperative period of coronary artery bypass surgery, requiring temporary pacing. Eight of those who had atrioventricular block progressed to implantation of a permanent pacemaker (0.23% of the total sample). Multivariate analysis revealed a significant association of atrioventricular block with age above 60 years (OR=2.34; CI 95% 1.75-3.12; P<0.0001), female gender (OR=1.37; CI 95% 1.06-1.77; P=0.015), chronic kidney disease (OR=2.05; CI 95% 1.49-2.81; P<0.0001), atrial fibrillation (OR=2.06; CI 95% 1.16-3.66; P=0.014), functional class III and IV of the New York Heart Association (OR=1.43; CI 95% 1.03-1.98; P=0.031), perioperative acute myocardial infarction (OR=1.70; CI 95% 1.26-2.29; P<0.0001) and with the use of the intra-aortic balloon in the postoperative period of coronary artery bypass surgery (OR=1.92; CI 95% 1.21-3.05; P=0.006). The presence of atrioventricular block resulted in a significant increase in mortality (17.9% vs. 7.3% in those who did not develop atrioventricular block) (OR=2.09; CI 95% 1.46-2.99; P<0.0001) and a longer hospital stay (12.75 days x 10.53 days for those who didn't develop atrioventricular block) (OR=1.01; CI 95% 1.00-1.02; P=0.01).Conclusions:In most cases, atrioventricular block in the postoperative period of coronary artery bypass surgery is transient and associated with several perioperative factors: age above 60 years, female sex, chronic kidney disease, atrial fibrillation, New York Heart Association functional class III or IV, perioperative acute myocardial infarction and use of an intra-aortic balloon. Its occurrence prolongs hospitalization and, above all, doubles the risk of mortality.