Passagens para peixes têm sido consideradas como estratégias para conservação da biodiversidade, visando além de assegurar os deslocamentos entre habitats fragmentados, atenuar a mortalidade por predação dos estratos populacionais que se concentram nos trechos imediatamente abaixo de barragens. Embora a mortalidade por predação no trecho a jusante de reservatórios tenha sido bem investigada, especialmente sobre os juvenis de salmonídeos em movimentos descendentes, nada se sabe acerca da predação de peixes neotropicais em áreas de atração e confinamento de peixes, eventos comuns a essas facilidades de transposição. Nesse estudo são analisados aspectos da predação em um sistema de transposição de peixes (barragem de Lajeado, rio Tocantins, Brasil), buscando avaliar a abundância, a distribuição e o tempo de permanência de grandes peixes predadores na escada, as injúrias impostas por piranhas durante a passagem e a ocorrência de outros vertebrados predadores. Para isso foram realizadas amostragens a jusante, ao longo da escada, no trecho imediatamente acima da barragem e a montante do reservatório, utilizando redes de espera, tarrafas e contagens ou registros visuais durante o período de um ano (Novembro de 2002 a Outubro de 2003). Marcações com linha e missanga e registro de mutilações foram também realizados em concomitância. Peixes, aves, quelônios e cetáceos foram os principais grupos de predadores observados, com predomínio dos dois primeiros. A área nas imediações da entrada da escada, a jusante, foi a região com maior número de grandes predadores, sendo a única de relevância para vertebrados não peixes. Indivíduos marcados permaneceram na escada exercendo a piscivoria por até 90 dias. Rhaphiodon vulpinus, Hydrolycus armatus e Serrasalmus rhombeus foram os principais peixes predadores. Mutilações por ataques de Serrasalmus atingiram 36% das espécies e alcançaram 4% dos indivíduos no topo da escada. Os resultados sugerem que a alta densidade de peixes no ambiente restrito da escada, associada às injúrias sofridas no percurso e a presença de múltiplos predadores dotados de estratégias de predação variadas, transforme o corredor para passagem de peixes em um "hotspot" de predação
Fish ladders are a strategy for conserving biodiversity, as they can provide connectivity between fragmented habitats and reduce predation on shoals that accumulate immediately below dams. Although the impact of predation downstream of reservoirs has been investigated, especially in juvenile salmonids during their downstream movements, nothing is known about predation on Neotropical fish in the attraction and containment areas commonly found in translocation facilities. This study analysed predation in a fish passage system at the Lajeado Dam on the Tocantins River in Brazil. The abundance, distribution, and the permanence (time spent) of large predatory fish along the ladder, the injuries imposed by piranhas during passage and the presence of other vertebrate predators were investigated. From December 2002 to October 2003, sampling was conducted in four regions (downstream, along the ladder, in the forebay, and upstream of the reservoir) using gillnets, cast nets and counts or visual observations. The captured fish were tagged with thread and beads, and any mutilations were registered. Fish, birds and dolphins were the main predator groups observed, with a predominance of the first two groups. The entrance to the ladder, in the downstream region, was the area with the highest number of large predators and was the only region with relevant non-fish vertebrates. The main predatory fish species were Rhaphiodon vulpinus, Hydrolycus armatus, and Serrasalmus rhombeus. Tagged individuals were detected predating along the ladder for up to 90 days. Mutilations caused by Serrasalmus attacks were noted in 36% of species and 4% of individuals at the top of the ladder. Our results suggested that the high density of fish in the restricted ladder environment, which is associated with injuries suffered along the ladder course and the presence of multiple predator groups with different predation strategies, transformed the fish corridor into a hotspot for predation.