Desde o final do século XIX, as práticas esportivas se tornaram um terreno de lutas simbólicas e práticas intensas sobre definições de feminilidade, sobre "o que é uma mulher" e quais as atividades que um corpo marcado como feminino pode ou deve realizar. Durante mais de uma década, venho realizando pesquisa sobre a prática esportiva de mulheres no Brasil, com um olhar para o mundo equestre. Apresentarei um resumo dessas pesquisas que vêm focalizando diferentes grupos de amazonas: inicialmente, um grupo de amazonas de origem social de elite que se dedicam ao salto (hipismo clássico), num segundo momento, jovens de origem popular que lutam para inserir-se no meio muito masculino do turfe e, finalmente, uma nova fase de pesquisa que se abre para o mundo tradicional do "rodeio campeiro" e suas pioneiras. Através de depoimentos de mulheres e de trabalho de cunho etnográfico e interacionista, procuro entender como as práticas dessas mulheres fazem parte de processos de construção identitária particulares, como lidam com meios que continuam sendo predominantemente masculinos e desenvolvem, nesses contextos, estratégias de autoafirmação, individuais ou coletivas. Apesar das pressões normativas e dos obstáculos culturais e/ou materiais que encontram no caminho, identifico nas suas práticas e modos de ser elementos de desafio às formas mais convencionais de viver o corpo e a subjetividade.
As of the end of the 19th century, sporting practices became the terrain of intense symbolic and material struggles over the definition of femininity - over "what a woman is" and over what women could or should do with their bodies. For over a decade now, I have been conducting research on women in the world of equestrian sport in Brazil. This paper presents a synthesis of my research, looking at different groups of horsewomen: an initial group were women from the elite world of show jumping; a second group, women jockeys who have struggled to find a niche within the still very masculine world of the turf and finally, my most recent endeavor, a look at women who participate in the popular Brazilian milieu of the rodeo. Through collecting women's testimonies and engaging in ethnographic research employing interactionist methodologies, I seek to understand how these women construct their identities, how they deal with milieu that continue to be largely male and how, within these contexts, they develop self-affirming strategies. It is my contention that, notwithstanding the normative pressures and cultural and/or material obstacles they face, these women, through their ways of being and acting, present a challenge to conventional modes of feminine corporality/subjectivity.