Resumo A desinstitucionalização, apoiada na experiência da psiquiatria democrática italiana, se tornou o eixo principal das políticas da reforma psiquiátrica brasileira. Contudo, a tendência a isolar usuários de saúde mental ainda persiste, levando a internações recorrentes ou à neoinstitucionalização. Na ausência dos antigos manicômios, vêm se constituindo novos circuitos de confinamento da loucura, que têm as comunidades terapêuticas como exemplo paradigmático. Considerando que a instituição é o conjunto de dizeres, práticas e moralidades que levam à objetificação dos usuários, traduzindo a racionalidade dominante, é preciso revelar a ideologia destes novos redutos manicomiais para entender a função que cumprem na sociedade atual. O presente artigo busca, portanto, analisar, por meio de revisão bibliográfica narrativa, o que estas instituições representam, como operam e quais questões elas colocam para a rede de atenção psicossocial - em particular os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Ao discutir o caso do Centro Vita e das comunidades terapêuticas, que expressam uma lógica semelhante, constatou-se que, se por um lado são locais destinados à morte dos improdutivos, por outro, encarnam moralidades e mentalidades atravessadas pelo discurso religioso, respondendo a necessidades subjetivas e existenciais que precisam ser tratadas com urgência, diante da crescente desfiliação social que assola os usuários de saúde mental e seus familiares.
Abstract Based on the experience of Italian democratic psychiatry, deinstitutionalization became the main axis of the Brazilian psychiatric reform policies. However, the tendency to isolate mental health users persists, leading to recurrent hospitalizations or neo-institutionalization. In the absence of the old asylums, new circuits for the confinement of madness have been created, with therapeutic communities as a paradigmatic example. Considering that the institution is the set of sayings, practices, and moralities that objectify users, translating the dominant rationality, it is necessary to show the ideology of the new asylum strongholds to understand the function they are fulfilling in today’s society. Therefore, this study seeks to analyze, by a narrative bibliographical review, what these institutions represent, how they operate, and what questions they pose to the psychosocial care network - especially the in the Centro de Atenção Psicossocial (CAPS - Psychosocial Care Center). In discussing the case of Centro Vita and the therapeutic communities, which express a similar logic, we found that if, on the one hand, they are places destined for the death of unproductive people, on the other hand, they embody moralities and mentalities crossed by religious discourse, responding to subjective and existential needs that must be urgently addressed in view of the growing social disaffiliation that plagues mental health users and their families.